O encerramento das creches e jardins de infância das Misericórdias, assim como das escolas em todo o país, coloca novos desafios aos professores, educadores e famílias, que se veem obrigados a assumir vários papéis dentro de quatro paredes. As equipas das respostas sociais de infância procuram responder às necessidades das famílias, disponibilizando ferramentas nas redes sociais, que facilitam a aprendizagem e transmitem tranquilidade às crianças.

As Misericórdias que partilharam a sua experiência com o VM (Almada, Venda do Pinheiro e Paredes de Coura) já dispunham de meios de comunicação digitais (grupos de Whatsapp, Messenger e outros) para dialogar com os pais das crianças por isso, em cada equipamento, aproveitaram os veículos já disponíveis para aprofundar os elos de ligação com as famílias.

As atividades lançadas em grupos de Whatsapp ou Messenger, onde participam pais e educadoras, inspiram-se nos planos educativos, definidos no início do ano letivo, e podem incluir desde leituras de histórias, coreografias em família a desafios de rimas, gincanas de obstáculos ou jogos com objetos do quotidiano. A criatividade não tem limites e, nalguns casos, obtêm-se “produções dignas de Hollywood”, como confidenciam as educadoras.

Em Almada, as equipas das respostas sociais de infância optaram por diferentes estratégias que se complementam: fichas com propostas de atividades (Complexo A Casinha), vídeos com tutoriais das educadoras (Centro integrado Arco-íris) e recolha de testemunhos junto das famílias (Centro Social da Trafaria). Num desses vídeos, as educadoras Ilda Cabo e Ana Aranha aconselham as famílias a cumprir rotinas e a definir horários, com momentos livres para exploração da imaginação, mas também períodos com atividades orientadas de expressão plástica, motricidade ou outras, inspiradas nas propostas enviadas diariamente às famílias.

Entre a gestão das tarefas domésticas, a educação dos filhos e o teletrabalho, os pais enfrentam desafios redobrados, dentro das suas casas, e agradecem, de diferentes formas, o apoio disponibilizado pelas educadoras, através de várias plataformas digitais. “Abençoados sejam os professores e educadores, e que neste momento, mais que nunca, devem ser valorizados (…) pelo esforço que têm feito para continuar a acompanhar os nossos filhos à distância”, reconhece Joana Efigénio, mãe de uma criança que frequenta a creche do Centro Social da Trafaria, num testemunho partilhado no site da Misericórdia de Almada.

Neste período de quarentena obrigatória, a diretora técnica do jardim de infância da Misericórdia de Paredes de Coura confessa que o maior desafio “é ser educadora fora do contexto de sala e sem estar na presença física das crianças. É uma aventura para todos nós e estamos a descobrir, à força, que é possível, basta querer e tentar”.

A partir da sua casa, Cláudia Soares e as colegas da equipa adaptam o plano de atividades anual, para cerca de 75 crianças (4 meses a 6 anos), a um “modelo de ensino doméstico à distância” que, apesar do empenho de todos, tem as suas limitações. “Não é fácil para os pais que estão em regime de teletrabalho serem inundados de atividades todos os dias por isso procuramos adaptar as atividades ao tempo e materiais disponíveis em casa. O mais importante nesta fase é não perder a ligação com as famílias. Muitas crianças não percebem porque não podem ir à escola por isso esta relação de proximidade é apaziguadora”.

O objetivo das atividades disponibilizadas à distância, como nos explica a diretora pedagógica da creche da Misericórdia de Venda do Pinheiro, é “ajudar a vivenciar esta fase com mais tranquilidade”. E para concretizar este objetivo, o leque de sugestões é variado: cantar melodias conhecidas das crianças, contar histórias de encantar e partilhar atividades de psicomotricidade, culinária ou expressão plástica. Também neste caso, Sandra Santos adianta que a resposta dos pais aos desafios lançados entre a comunidade virtual tem sido “muito positiva porque as pessoas estão ativas e sentem-se mais acompanhadas”. Nesta instituição, o apoio prestado às famílias inclui ainda atendimentos virtuais pelo Gabinete de Psicologia.

* Fotografia: Misericórdia de Ponte da Barca

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas