Parceria entre Misericórdia de Aljustrel e Associação Equestre Aljustrelense está a viabilizar aulas de atrelagem adaptada para idosos.

A égua branca segue em trote compassado e rápido. A tarde está soalheira e aos “comandos” da charrete Assunção da Silva não hesita, manobrando com destreza os arreios. “Sabe, o meu marido – que Deus tem – era ‘moiral’ (pastor) de ovelhas e possuí sempre animais. Tive uma égua, uma burra… Andava sempre a cavalo”, conta de sorriso largo, já em solo firme após uma breve viagem de 15 minutos em redor do picadeiro do Parque de Feiras e Exposições de Aljustrel, no distrito de Beja. “Foi curtinho, mas foi muito bom”.

Assunção da Silva, 78 anos, é uma das utentes do lar e centro de dia da Santa Casa da Misericórdia de Aljustrel que frequentam, desde meados de 2017, sessões de atrelagem adaptada, que utiliza o cavalo como “instrumento terapêutico”. 

O projeto resulta de uma parceria entre a instituição e a Associação Equestre Aljustrelense e visa, por um lado, combater o isolamento e o sedentarismo, assim como, por outro lado, contribuir para a recuperação de problemas de saúde, caso de acidentes vasculares cerebrais (AVC), situações de mobilidade reduzida ou mesmo utentes que sofram de demência ou Alzheimer.

“Tem vários benefícios. É o convívio, é o sair do sofá e depois isto mexe com tudo! Mexe por dentro e mexe por fora”, nota o monitor José Manuel Correia, 74 anos, que leva quase quatro décadas de trabalho nesta área. “Isto melhora o equilíbrio das pessoas de uma forma extraordinária. Tem uma particularidade: podemos andar numa dinâmica mais lenta, mas também pode ser ‘mais a abrir’, o que as obriga a pôr uma série de coisas em movimento em termos de lateralidade e de raciocínio”, acrescenta.

“Pelas diferentes patologias, nomeadamente AVC e demências e pela própria idade dos nossos utentes, muitas vezes até pela mobilidade condicionada ou reduzida de muitos, achámos que esta atividade equestre, com fins terapêuticos, era a indicada”, observa o provedor da Misericórdia de Aljustrel. “As mais-valias desta atividade têm sido múltiplas. Permite um momento de socialização importante e melhora as qualidades cognitivas, sensoriais e motoras, como a mobilidade, a atenção, a autoestima, a afetividade e a consciência espácio-temporal, entre outras”, acrescenta Manuel Frederico.

“Os idosos normalmente vão para o lar para ficarem sentados numa cadeira, à espera da hora do almoço e do jantar. Assim têm mais uma atividade que, segundo a experiência que já temos, é uma mais-valia, pois notam-se muitas melhorias”, reforça o presidente da Associação Equestre Aljustrelense, José Borges.

‘A ver se esta mão reage’

Custódia Carrasquinho, de 81 anos, era uma mulher cheia de vida até sofrer um AVC. O acidente deixou-a com algumas limitações físicas, que tenta agora minimizar com as sessões de atrelagem adaptada. 

“Tem sido bom e gosto de vir, para ver se me ponho melhor, a ver se esta mão reage um bocadinho! E sempre apanhamos um ‘arzinho’”, conta com boa disposição. “Quando começámos a D.ª Custódia não saía para lado nenhum. E hoje já vai conseguindo conduzir [a charrete]! Está a fazer a uma recuperação muito agradável”, acrescenta a seu lado José Manuel Correia.

Mas as sessões de atrelagem adaptada servem também para os idosos da Misericórdia de Aljustrel saírem para fora das quatro paredes da instituição. “Acabam por combater o isolamento, o sedentarismo e o ócio”, sublinha a animadora sociocultural Filipa Santos, que acompanha os utentes na atividade. 

“É uma ‘distracçãozinha’ para nós. Dá para espairecer as ideias e apanhar sol”, admite Assunção da Silva. “Isto faz bem. Nunca tinha experimentado, mas quando era moça andava em burros para ir aos figos. E isto dá para a gente se distrair e divertir”, acrescenta Mariana Chaíça, de 85 anos.

Os ganhos são evidentes e reconhecidos por todos. Por isso mesmo, esta é uma atividade que a Misericórdia de Aljustrel quer continuar a proporcionar aos seus utentes através da parceria que estabeleceu com a Associação Equestre local. 

“Proporcionamos momentos de felicidade aos nossos utentes e, ao mesmo tempo, atividades terapêuticas que podem contribuir para o seu bem-estar e para a sua melhoria de vida no seu dia-a-dia”, afiança Manuel Frederico, para logo concluir: “É uma atividade que é diferenciadora e que nos permite disponibilizar aos nossos utentes momentos de convívio e, ao mesmo tempo, de grande ajuda terapêutica. Conciliando vontades, achamos que possa ser uma atividade para ter continuidade”.

Voz das Misericórdias, Carlos Pinto