A Misericórdia de Ansião está a promover visitas ao património do concelho destinadas aos utentes das respostas seniores

São “tantas” as recordações que lhe vêm à memória que Emília Teodósio não consegue suster as lágrimas. Sentada num dos bancos da Igreja Paroquial de Alvorge, concelho de Ansião, a mulher de 88 anos lembra os tempos de mocidade, quando, acompanhada por outras raparigas da sua idade, percorria os caminhos que ligavam Torre Vale Todos, onde vivia, e Alvorge para participar nos encontros de jovens dinamizados pelo pároco local. 

Emília Teodósio recorda ainda os momentos de oração e de devoção a Josemaria Escrivá, sacerdote espanhol canonizado por João Paulo II, diante da imagem existente na igreja do Alvorge. “São muitas as recordações. Por isso, não consegui segurar as lágrimas”, confessa esta utente da Misericórdia de Ansião no final de mais uma visita ao património do concelho. 

Sílvia Ferrete, animadora sociocultural, explica que a iniciativa decorre no âmbito do Plano de Atividades de Desenvolvimento Pessoal para os utentes das respostas sociais seniores da irmandade, este ano subordinado ao tema “Pelos caminhos de Ansião”. O objetivo é desenvolver atividades de animação com visitas a pontos de interesse nas seis freguesias. 

Entre os locais já visitados estão as igrejas de São João Domingos (Lagarteira), da Senhora da Graça (Torre Vale Todos) e do Anjo da Guarda (Pousaflores). “A maioria dos utentes tem uma ligação forte à religião católica. Por isso, as igrejas são sempre espaços que lhe dizem muito”, refere a técnica, contando que a visita à freguesia de Santiago da Guarda foi a única que não incluiu a igreja no roteiro e houve quem sentisse essa falta.

Nesse dia, os utentes passaram pelo complexo monumental da vila, onde assistiram também uma palestra proferida pelo arqueólogo que está a fazer trabalho de investigação no local e participaram num ateliê de mosaico romano. 

A vista de julho, acompanhada pelo VM, teve como destino a Igreja Paroquial de Alvorge, que foi apresentada à comitiva por Isaura Sanches. “Pedimos sempre a alguém da terra que nos receba e que nos faça uma breve descrição do local”, conta Sílvia Ferrete. 

Isaura Sanches explica que a festa anual da paróquia se realiza em julho, em honra do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora da Conceição, e que a igreja tem missa “todos os domingos”. Sílvia Ferrete completa a informação referindo que “esta não é a igreja original e que antes houve outra”, entretanto demolida para dar lugar à atual. 

“Tem um altar muito trabalhado e bonito”, constata um dos utentes, enquanto Emília Teodósio esclarece a dúvida em torno da imagem que se encontra do lado direito do altar. “É São Josemaria Escrivá. Ele concedeu uma graça a um senhor cá da terra que depois ofereceu a estátua. No tempo do padre Henrique, havia oração uma vez por mês. Vinha gente das redondezas”, conta a utente.

“Havia também aqui encontros de jovens”, acrescenta Teresa Bicho, utente do centro de dia da Misericórdia de Ansião, que desses tempos recorda, além dos momentos de reflexão, a animação que se vivia. “Uns cantavam, outros dançavam. Vínhamos a pé das aldeias vizinhas. Era um divertimento”, relata a mulher, para quem estas visitas ao património ajudam a avivar memórias. “Tenho participado em todas. Gosto da animação e de recordar outros tempos. Já fomos à minha terra – Torre Vale Todos – que é a melhor do concelho”, diz, entre risos. 

O reavivar “remanescências de outros tempos” é, precisamente, um dos objetivos da iniciativa. “A maioria dos utentes é natural do concelho. Voltar à sua terra, passar por locais onde trabalharam ou conviveram, ajuda a reavivar memórias”, refere Sílvia Ferrete, adiantando que, com estes passeios, se cruzam várias áreas: o conhecimento do património, a estimulação cognitiva, através da memória, e até a prática de exercício físico.

Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva