Envelhecimento vai obrigar à convergência entre saúde e segurança social. Não pensar sobre este tema “pode sair caríssimo” e quem “vai ficar com a lama nas botas são as instituições de solidariedade social”.

A convergência entre saúde e segurança social será determinante para preparar o País para o envelhecimento da população. Não pensar sobre o impacto do aumento do número de idosos “pode sair caríssimo” e quem “vai ficar com a lama nas botas são as instituições de solidariedade social”. Estas ideias foram defendidas durante a sessão temática dedicada ao tema “Envelhecimento: um futuro comum”, que contou com Sandra Pais, docente e investigadora da Universidade do Algarve (UAlg), e Pedro Mota Soares, deputado do grupo parlamentar CDS-PP. 

Segundo Sandra Pais, que coordena o Centro Internacional sobre o Envelhecimento na UAlg, a evolução demográfica aponta para um cenário com dois segmentos de idosos. As demências (que tendem a aumentar com o avançar da idade) vão determinar a maior parte dos casos de institucionalização e, por outro lado, seniores com outros tipos de fragilidade tendem a permanecer em casa, usufruindo, para o efeito, de serviços de apoio domiciliário.

Neste cenário, programas de prevenção em saúde devem ser fomentados. Além da promoção de estilos de vida saudáveis (alimentação e atividade física), a prevenção de risco (queda no domicílio, por exemplo) e a reabilitação tendem a ser cruciais para a manutenção da qualidade de vida e da autonomia, possibilitando, desta forma, o adiamento da institucionalização.

Contudo, referiu Sandra Pais, o envelhecimento pode corresponder à emergência de novas profissões e novas oportunidades de mercado como turismo sénior e atividades relacionadas com bem-estar. Não pensar sobre estas tendências “pode ficar caríssimo”, disse a investigadora.

Os custos do envelhecimento e o impacto da saúde foram aspetos também analisados por Pedro Mota Soares. Segundo o deputado do CDS-PP, um dos fatores mais gravosos para as contas públicas passa pela taxa de adultos ativos por pensionista. Em 1974 eram 9. Em 2017 apenas 2,5 e esta tendência tem vindo a suscitar alertas de entidades internacionais como o FMI. O envelhecimento terá, disse Mota Soares destacando um relatório deste organismo internacional, um enorme impacto na sustentabilidade do país.

O aumento da população idosa acarreta igualmente uma maior incidência de doenças como cancro e demências. Ambas têm vindo a aumentar ao longo dos anos e é “previsível que esta tendência se mantenha de acordo com o envelhecimento da população e com a adoção de estilos de vida menos saudáveis”.

Estas duas realidades colocarão mais exigências “aos sistemas de segurança social e saúde que terão de se ajustar para conseguirem responder e serem sustentáveis”.

A este debate, o ex-ministro acrescentou o fator de automação do emprego, que nos próximos anos tende a aumentar em praticamente todas as áreas de atuação e deve ser parte integrante desta reflexão. Dando conta de que o potencial de automação na área da ação social e dos cuidados de saúde ronda os 40%, lançou o repto: “como vamos preparar as nossas cidades para responder aos desafios do envelhecimento e da tecnologia?”.

A UMP, disse, tem vindo a colocar esta dimensão do envelhecimento no centro do debate público e, se nada for feito, quem ficará “com lama nas botas são as instituições de solidariedade que cuidam dos idosos”.

Dedicada ao tema “Envelhecimento: um futuro comum”, a sessão foi moderada por Carla Pereira, vogal do Secretariado Nacional da UMP e provedora da Misericórdia de Aldeia Galega da Merceana.

Voz das Misericórdias, Bethania Pagin