No âmbito do laboratório de ideias a UMP promoveu um seminário sobre o apoio domiciliário e tecnologias para modernizar o serviço prestado pelas Misericórdias.

Malas com sensores que medem sinais vitais no domicílio e aplicações móveis que facilitam a comunicação entre cuidadores e idosos já não são soluções num futuro longínquo. É possível envelhecer feliz e com autonomia em casa e as Misericórdias podem ser parte integrante deste novo modelo de apoio domiciliário, em articulação com os poderes locais, universidades e outras entidades. O desafio foi lançado pela União das Misericórdias (UMP), no dia 06 de fevereiro, num seminário dedicado ao serviço de apoio domiciliário (SAD) e tecnologia.

“Este é um convite a um modelo que, com os recursos humanos já existentes, é possível de implementar no terreno. Não há novas tecnologias, tudo isto existe e é de possível aplicação”, esclareceu a responsável pelo Gabinete de Ação Social, Susana Branco, antes de convidar as 107 Misericórdias presentes a deslocar-se a uma mostra dedicada a soluções tecnológicas que otimizam a gestão das instituições e monitorizam os utentes no domicílio.

Pessoas mais velhas e dependentes, e por outro lado, mais letradas e conectadas com as tecnologias vão exigir mudanças nos equipamentos e recursos humanos das instituições e para tal o presidente da UMP considera fundamental o “trabalho conjunto com as universidades”, subjacente a este seminário. Se os académicos manifestam interesse em conhecer a realidade no terreno, para as Misericórdias “as parcerias com a Academia permitem validar cientificamente as conclusões alcançadas”, reforçou Manuel de Lemos no arranque da sessão. 

O repto foi lançado pela UMP a investigadores e técnicos das instituições e o resultado deste confronto de ideias, obstáculos e necessidades no terreno foi, segundo os vários intervenientes, positivo, rico e propenso a novos caminhos e soluções.

No decorrer das sessões, o grupo de trabalho constituído pela UMP, Santas Casas da Amadora e Santarém, Universidades de Lisboa (Instituto do Envelhecimento) e Lusófona (HEILab – Human Environment Interaction Lab) identificou a necessidade de criar um modelo de cuidados integrados, adequado ao novo perfil do idoso (Ver caixa), e propôs eixos estratégicos de ação que reforçam o apoio em áreas como a saúde, segurança, comunicação e tecnologias.

De forma unânime, os intervenientes no projeto defenderam que a panóplia de serviços disponibilizada pelas instituições, além de colmatar necessidades básicas (alimentação, higiene pessoal e habitacional, lavandaria) deve assegurar cada vez mais a autonomia, saúde e bem-estar, promover hábitos de lazer, comunicação e participação ativa do idoso em sociedade.

“Os cuidados sociais e de saúde vão convergir e têm de ser geridos localmente. Vai ser um trabalho entre instituições, utentes, famílias e as próprias câmaras, como gestoras do poder local”, anteviu Pedro Ferreira, do Instituto do Envelhecimento da Universidade de Lisboa.

Segundo o responsável pelo departamento de inovação da Misericórdia da Amadora, Adriano Fernandes, este modelo de “integração de cuidados sociais e de saúde, apoiados em tecnologia, nomeadamente teleassistência e monitorização” está a ser implementado desde 2014 no âmbito de uma experiência piloto desenvolvida com a autarquia e a Altice. Em apenas 12 meses, os benefícios decorrentes das visitas domiciliárias, suportadas por equipamentos de monitorização de sinais vitais foram notados: menor número de hospitalizações e melhoria da saúde e bem-estar, num concelho marcado pelo envelhecimento e isolamento social. 

Antecipando reações na plateia, Adriano Fernandes assegura que o custo dos dispositivos tecnológicos é residual no orçamento das instituições, sendo corroborado pela responsável do Gabinete de Ação Social da UMP, pouco depois. “Um investimento numa tecnologia que faz medições simples na área da saúde tem retorno financeiro porque se evitam deslocações e as pessoas vivem menos ansiosas”, insistiu Susana Branco.

Neste caso, as parcerias podem assumir um papel determinante na diluição da despesa, seja com empresas do setor privado, como aconteceu na Amadora, seja com as autarquias, como na Chamusca, onde os custos de um serviço de apoio domiciliário, com enfermagem, fisioterapia e teleassistência, vão ser suportados durante dois anos pelo poder local. 

Para ajudar as Misericórdias a preparar-se para os novos desafios, a UMP vai elaborar um modelo de apoio domiciliário, nos próximos dois anos, adaptado às assimetrias socioeconómicas do país, que garante um acompanhamento personalizado dos utentes. Esse laboratório de ideias, inteiramente dedicado ao SAD, visa adequar os serviços às exigências da nova geração de idosos e envolver as pessoas num processo ativo de envelhecimento. Mas para isso, apelou a responsável pelo projeto da UMP, “vamos precisar da colaboração das mesas administrativas e técnicos das Misericórdias, de quem está no terreno”.

Recorde-se que este laboratório de ideias é uma das atividades do projeto de Capacitação da UMP, financiado pelo POISE no âmbito do Portugal 2020.

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas