“A street art, pintura de um rosto agradável cuja mão em forma de flor parece estar a receber as pessoas”, explicou Manuel Caldas de Almeida, provedor da Santa Casa, a propósito das obras que abriram caminho entre a comunidade e a instituição, um caminho sem barreiras que tem como um dos seus pontos de encontro o requalificado Jardim Municipal, território de reunião intergeracional e inter-relacional entre idosos, famílias, filhos, netos e população em geral.
Nas obras de requalificação do lar de idosos, financiadas pelo Fundo Rainha Dona Leonor e pelo PARES 3.0, o circuito interno, já trilhado pelos utentes, é alargado ao exterior. O novo mapa tira proveito das características naturais de estimulação sensorial, física e cognitiva que a natureza pode oferecer aos idosos, em especial aos portadores de demência, parte importante da população residente.
“Isto é um lar que quer pôr as pessoas que estão dentro lá fora e as pessoas que estão lá fora cá dentro”, sintetizou Caldas de Almeida ao VM. “Tem de ser um sítio natural para quem está fora entrar e um sítio natural para quem está dentro sair e haver um encontro nestes espaços”, explicou.
Peças de damas e xadrez atravessam-se no caminho de quem pisa estes terrenos. “Ajudará a que as pessoas possam brincar, jogar e, enfim, interagir. Ou seja, puxar um bocadinho pela cabeça, corpo, alma e pela convivência”, fixou o provedor.
Antecedem os ‘Jardins Mariano’, inaugurado em “homenagem ao vice-provedor, grande motor nesta casa e desta obra”, relembrou Caldas de Almeida às entidades presentes, num local onde outrora existia um “cabeço com arbustos maldispostos” e que deu lugar a um “espaço aberto e de comunicação com o jardim”, classificou.
Entre os passos dados, o maior de todos foi trazer a vida do Jardim Municipal para dentro da instituição e levar esta até ao jardim. “Já está a acontecer naturalmente. Os miúdos começam a vir para aqui, as pessoas ao fim de semana começaram a fazer piqueniques e, portanto, naturalmente, os idosos saem, convivem e sentem que continuam a fazer parte da família”, descreveu o provedor na conversa com o VM.
“O facto de o Jardim Municipal estar nos nossos espaços” potenciou esta mudança de paradigma na forma como se olha para um lar, que “não é uma plataforma final antes de morrer, não é um fim, tem de ser um sítio onde vamos viver, como outros sítios em que vivemos, é mais uma etapa”, reforçou.
Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), foi uma das personalidades a marcar presença em Mora. Para o responsável, o “Fundo Rainha Dona Leonor é uma parceria muito importante” e, aproveitando a presença do secretário de Estado da Segurança Social, Jorge Campino, prometeu continuar a dialogar com a tutela. “São assuntos que dizem respeito aos portugueses e não assuntos das Misericórdias, que são o elo de ligação entre as comunidades e o Estado”, frisou.
As inaugurações em Mora contaram ainda com a participação de Ângela Guerra, vogal da Santa Casa da Misericórdia Lisboa, Paula Chuço, presidente da Câmara Municipal de Mora, e Francisco Senra Coelho, arcebispo de Évora, que procedeu à bênção dos novos espaços.
Asilo virou museu
“Era um antigo asilo que transformámos em museu”, disse Manuel Caldas de Almeida sobre a requalificação do núcleo museológico. “As pessoas ainda não perceberam o que são as Misericórdias e aqui explicamos qual a missão e como funcionam.” Para o efeito, o espaço conta com “uma sala com a ligação à igreja, outra com as procissões e promessas, uma sobre as obras de misericórdia e outra com as doações”, concluiu o provedor.
Fotografias de José Artur Macedo
Voz das Misericórdias, Miguel Morgado