A Santa Casa da Misericórdia de Oliveira de Azeméis organizou uma exposição fotográfica para valorizar as memórias dos idosos

Precisamos fazer das nossas terras “cidades amigas das pessoas idosas”. O apelo é da Organização Mundial de Saúde, mas a recomendação surge pela voz do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Oliveira de Azeméis durante a inauguração da exposição “Dá-me a tua mão: vou contar-te a minha história".

A mostra, que esteve patente ao público durante o mês de maio, surgiu integrada no projeto “Eu tenho memória…eu sou capaz”, financiado no âmbito de uma candidatura ao Portugal Inovação Social, 3.32 - Programa de Capacitação para o Investimento Social. O objetivo global deste projeto da Misericórdia de Oliveira de Azeméis é a construção de boas práticas na intervenção com os idosos, principalmente idosos diagnosticados com demências.

Pensada neste quadro, a exposição organizou-se em momentos distintos. Numa primeira sala, designada de “Eu tenho memória”, foram apenas envolvidos 18 seniores. Cartazes com fotografias e narrativas contavam a história de vida de cada um deles.

A sala “Eu sou capaz” foi pensada para a interação entre os idosos e as crianças do pré-escolar da Santa Casa. Através de vários ateliês e com recurso a fotografias, sons e vídeos, os mais novos ensinaram os mais velhos a lidar com as novas tecnologias e os mais pequenos aprenderam com os seniores a desenvolver atividades de culinária e trabalhos manuais.

“Olhar imagens de outras épocas é reviver um pouco das emoções e sentimentos experimentados”, referiu a diretora técnica da instituição, Carla Carvalho, acrescentando que “dificilmente uma pessoa, mesmo com a saúde física ou mental abalada, consegue ficar imune aos dias felizes eternizados em fotografias. São as memórias que garantem a nossa identidade. E são únicas para cada um de nós”, reforçou.

Esta exposição apresentou uma reconstrução histórica do passado dos idosos com a colaboração das famílias, na busca das reminiscências, transmitindo aos mais novos a sua experiência e o seu modo de vida de há 50 anos. “Este projeto serviu também para mostrar que os idosos, mesmo estando numa instituição, ainda são muito capazes e úteis à sociedade, traduzindo as suas experiências de vida a partir das referências que possuem no momento presente”, sublinhou Carla Carvalho.   

Falando sobre o espírito das Misericórdias, Carla Carvalho destacou que o mote da exposição (“Dá-me a tua mão”) vai ao encontro da missão das instituições porque destaca a “solidariedade, a ajuda e a caridade fraterna”.

Opinião semelhante tem o provedor Vítor Machado para quem é “detestável que a sociedade meta os idosos em prateleiras longínquas, quase a perder de vista, para quem se fazem umas coisas para os manterem entretidos, mas sem o espírito de os fazerem participar nas atividades da comunidade”, reforçou.

Desenvolvido pelos utentes, continuou o dirigente, o projeto faz um apelo à solidariedade e à intergeracionalidade, dois valores fundamentais na construção de uma sociedade mais inclusiva e mais participativa. “Infelizmente, as sociedades estão, nos tempos modernos, segmentadas por idades, com os Estados a adotarem políticas que favorecem o distanciamento e o desconhecimento entre gerações. São as políticas pensadas para cada classe etária, sentindo-se os mais velhos apartados da comunidade e, pior que isso, da própria família. É preciso acabar com os guetos, é preciso acabar com a segregação a que nos conduz a ideia peregrina de arrumar as gerações em prateleiras”, desafiou Vítor Machado.

“Passar estas histórias de vida para um livro de memórias é o sonho da Misericórdia”, revelou Carla Carvalho, adiantando que “sem o apoio de mecenas e de parceiros, não haverá possibilidade de concretizar essa ambição”.

Kim Ramalho, fotógrafo que tem colaborado com a instituição noutros eventos, aderiu voluntariamente a este projeto e foi o responsável pela composição da imagem de todas as fotografias expostas. “Este foi um trabalho completamente distinto dos já realizados em ocasiões anteriores, havendo aqui um apelo maior ao sentimento pelas histórias que foram contadas”, explicou.

O momento em que aconteceu a sessão fotográfica “foi ainda aproveitado para fazer uns clips de vídeo que proporcionou um making off que surpreendeu a Santa Casa”, revelou o autor das fotografias que mereceram rasgados elogios de quem teve oportunidade de apreciar estas “obras de arte”. Voz das Misericórdias, Paulo Sérgio Gonçalves

Legenda: ‘Passar estas histórias de vida para um livro de memórias é o sonho da Misericórdia’, revelou Carla Carvalho, diretora técnica