A Misericórdia de Pombal está a utilizar um robô terapêutico na intervenção junto de idosos com demência e perturbações cognitivas

Quando Ana Rita Santos, a fisioterapeuta, lhes põe Mizi no colo, os rostos de Emília Couto e de Emília Carrilho iluminam-se. Seguem-se momentos de pura ternura entre as duas utentes da Misericórdia de Pombal e a foca robô. Aos mimos das idosas, que a afagam e a beijam, Mizi responde, abanando a cauda e abrindo e fechando os olhos, em sinal de satisfação. “Só não fala”, constatam as utentes, que não se inibem de verbalizar “as saudades” que já tinham dela. Há utentes que “até lhe cantam” e outros que querem levá-la para o quarto, confidencia a técnica.

A Mizi é a mais recente atracão da estrutura residencial para idosos (ERPI) da Misericórdia de Pombal. Parece um peluche, de pelo branco, mas é muito mais do que isso. Trata-se de um robô terapêutico que reage a estímulos táteis e à voz (vibra quando recebe mimos, emite sons de desconforto, se tocada de forma mais agressiva, e até abre os olhos, “se lhe fazem uma festinha”), funcionando como instrumento de trabalho na intervenção junto de utentes com demências e perturbações cognitivas e no tratamento da ansiedade.

Ana Rita Santos confessa que, quando estava a trabalhar na candidatura ao Prémio BPI Seniores, que financiou o projeto, “não estava muito convencida” das mais-valias do robô. No entanto, quando a Mizi chegou e os resultados começaram a aparecer, a técnica ficou “rendida”.

Entre os “inúmeros” benefícios deste tipo de equipamento, a fisioterapeuta destaca a “interação social e emocional”, estimulada pelo robô. Para ilustrar o que diz, Ana Rita Santos refere o caso de uma utente, que sofre de demência ainda numa fase inicial. “Quando está mais triste ou agitada, vamos buscar a Mizi. Fica logo com outra disposição. Mais alegre e calma. Até canta para ela”, conta a técnica, revelando ainda que, através da foca, conseguiram colocar uma outra utente, que era cabeleireira, a exercitar as mãos. “Como? Damos-lhe uma escova e pomos-lhe a Mizi no colo e ela penteia-lhe o pelo. Neste caso, trabalhamos também a parte física”, concretiza.

O robô estimula também as relações interpessoais através da interação que se gera nas sessões de grupo, que decorrem duas vezes por semana, na sala de convívio da instituição. Nesses encontros, a Mizi é a convidada de honra, passando de colo em colo. “Falam com ela, cantam-lhe e fazem-lhe mimos. Com a dinâmica que se cria, os utentes acabam também por interagir uns com os outros”, revela a fisioterapeuta.

No caso de utentes com demência “mais pronunciada”, a interação com o robô acontece num espaço com “maior privacidade”. A Mizi é também chamada a intervir “sempre que seja visível a necessidade de acalmar algum utente mais agitado”, estratégia que tem apresentado “muitos resultados”. Além da intervenção terapêutica, o robô tem uma componente de “entretenimento”, proporcionando “muitos momentos de alegria e bem-estar” aos idosos.

“A Mizi devolve o sorriso a uma pessoa deprimida, estimula a capacidade de interação de uma pessoa tímida ou com bloqueios afetivos e ajuda a controlar comportamentos agressivos”, resumem as técnicas envolvidas no projeto, que, além de Ana Rita Santos, conta com colaboração de Célia Oliveira (psicóloga), Bruna Antunes (terapeuta da fala) e Carina Silva (animadora).

O robô terapêutico, de tecnologia japonesa, foi financiado pela edição de 2018 do Prémio BPI Seniores, no âmbito da candidatura "MultiProject" apresentada pela Misericórdia de Pombal. A ideia partiu do provedor, Joaquim Guardado, que defende que as instituições devem “inovar” e procurar respostas “diferenciadoras”, para ir ao encontro das necessidades dos utentes. “Os problemas de demência são, cada vez mais, uma realidade. Procuramos que essas pessoas possam ser estimuladas a vários níveis. O robô tem-se revelado um bom investimento, com resultados muito positivos”, constata o dirigente.

Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva