A monotonia não faz parte da rotina dos utentes da Misericórdia de Vila do Bispo. Ali cada dia é diferente, uma aventura onde a esperança se mistura com a vontade de acreditar que ainda é possível sonhar.

A tal ponto que os sonhos comandam a vida de quem ali está. “Eu sonhava” é o projeto da instituição que pôs os idosos a sonhar novamente.

Com a ajuda de várias pessoas, empresas e entidades particulares muitos já estão a ver os seus sonhos ganharem asas e outros nem sonham que os vão ver realizados.

Uma simples ideia, inserida no conjunto de atividades anuais que a Santa Casa organiza, ganhou força no facebook e atualmente é um fenómeno de sucesso, a tal ponto que já foi notícia no Brasil. Chama-se “Eu Sonhava” e é um dos mais mediáticos projetos da Misericórdia de Vila do Bispo.

Armindo Vicente, provedor da Misericórdia desta localidade algarvia, garante ao Voz das Misericórdias que no dia 25 de Setembro do próximo ano, dia da celebração do Dia dos Sonhos, a maioria dos sonhos vai estar concretizada. Até à data em que realizamos a nossa reportagem, perto de 10 sonhos já tinham sido realizados. E pensar que todo este mediatismo se deveu a uma simples colocação, na rede social facebook, de um conjunto de fotografias, onde cada um, dos quase oitenta utentes, escreveu numa ardósia os desejos que gostariam de ver cumpridos.

O objetivo principal era estabelecer uma ligação mais próxima com as famílias dos utentes, mas as fotografias ganharam vida por si próprias e foram multiplicando gostos e partilhas até chegar aos seis milhões de interações e mais de 25 mil partilhas.

Na verdade sonhar não custa. É tão fácil sonhar. E em Vila do Bispo sonhos há muitos. Desde os mais ambiciosos como ir ao Brasil, dar a volta ao mundo, publicar um livro, até aos mais simples: ir ao jardim zoológico, viver com saúde, ir à pesca ou até mesmo fazer rissóis. Depois há os mais fantasiosos: ganhar o euromilhões, ter bisnetos, ser médica, ou voltar a ser novo. Alguns deles repetem-se.

O engraçado, como nos conta a animadora Cláudia Carrilho, é que a iniciativa acabou por mostrar que alguns dos utentes partilhavam o mesmo sonho. “A reação foi muito gira porque acabaram por se descobrir uns aos outros. Apesar de conviverem todos os dias não sabiam que partilhavam o mesmo sonho”. Certo é que ninguém conseguiu ficar indiferente à ternura com que os utentes exibiram os seus sonhos. Voluntários, familiares, instituições particulares, empresas, todos começaram a querer tornar os sonhos realidade. E aos poucos vão conseguindo.

 

Reportagem disponível na íntegra na edição de novembro do “Voz das Misericórdias”.