Em jeito de balanço, o VM convidou dez profissionais de Misericórdias para refletirem sobre o trabalho realizado e os principais desafios para o futuro próximo. O mote deste convite foi inspirado por uma frase do Papa Francisco: “A escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação”. A escuta é aquilo que tentamos, diariamente, praticar no VM. Ouvir para, depois, dar a conhecer as histórias mais inspiradoras das Santas Casas, que consideramos terreno fértil para transformação de vidas e para a cidadania ativa.

No primeiro testemunho, o diretor geral da Misericórdia da Amadora, Manuel Girão, alerta para a falta de habitação digna e a custos controlados, que afeta jovens e famílias em todo o país, e defende uma estratégia integrada das Misericórdias nesta área.

"Fui Peregrino e me acolheste

Ao longo de mais de cinco séculos de história, as Misericórdias portuguesas estiveram sempre na primeira linha no apoio às suas comunidades.

Da educação à saúde, dos mais novos aos mais velhos, as Misericórdias souberam sempre encontrar respostas adequadas à realidade social do nosso país.

Atualmente um dos maiores problemas que afeta a nossa sociedade é o problema da habitação, ou melhor da falta de habitação.

De facto, é um drama vivido nas nossas cidades, vilas e aldeias. Salvo melhor opinião, o problema não está na falta de habitação, mas sim no preço exorbitante e completamente desproporcional das mesmas.

Sendo a vida uma peregrinação na terra, todos nós somos peregrinos neste caminho. Como tal, é fundamental acolhermos todos os peregrinos que precisam de acolhimento, permitindo uma habitação digna e com preços que possam suportar.

Quantos jovens não conseguem sair de casa dos pais por falta de capacidade, quantos casais não conseguem comprar ou arrendar uma casa. Quantos profissionais não conseguem fixar-se numa localidade por falta de habitação.

Na minha opinião, as Misericórdias portuguesas deveriam, em conjunto, encontrar uma resposta a este drama. Como noutras alturas, as Misericórdias uniram-se e criaram redes para responder a problemas na educação, na saúde ou no envelhecimento.

Está na altura de as Misericórdias responderem presente ao problema da habitação.

Não podemos ficar alheios a esta problemática.

Uma obra de misericórdia é o acolhimento, como poderemos acolher sem um lar?

As Misericórdias podem e devem combater este problema através de políticas eficientes, estabelecendo parcerias com as autarquias e outros parceiros públicos e privados, no sentido de se devolver um investimento em habitação acessível e a custos controlados.

Pensar na habitação como uma estratégia das Misericórdias poderá responder às necessidades das comunidades, mas também desenvolver políticas de sustentabilidade para as nossas instituições.

Na Misericórdia da Amadora estamos empenhados em fazer parte da solução deste problema. Assumiremos, em conjunto com diversos parceiros, a construção de habitação para renda acessível, que possibilite fixar jovens, casais e emigrantes na nossa cidade.

Desejo a todas as Misericórdias um Santo Natal e Ano Novo cheio de novos e desafiantes projetos."

Voz das Misericórdias, edição de dezembro de 2023