Em jeito de balanço, o VM convidou dez profissionais de Misericórdias para refletirem sobre o trabalho realizado e os principais desafios para o futuro próximo. O mote deste convite foi inspirado por uma frase do Papa Francisco: “A escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação”. A escuta é aquilo que tentamos, diariamente, praticar no VM. Ouvir para, depois, dar a conhecer as histórias mais inspiradoras das Santas Casas, que consideramos terreno fértil para transformação de vidas e para a cidadania ativa.

Para superar os desafios únicos que as Misericórdias do interior enfrentam, a diretora técnica da unidade de cuidados continuados e da ERPI Foz da Moura, da Misericórdia de Pampilhosa da Serra, Célia Simões, considera que é necessário diversificar as fontes de financiamento, estabelecer parcerias e definir estratégias de captação de recursos eficazes. 

'Misericórdias no interior e a sua sustentabilidade

As Misericórdias do interior enfrentam uma série de desafios significativos nos dias de hoje. Estas instituições, muitas vezes localizadas em áreas rurais ou regiões menos desenvolvidas, como é o caso da Santa Casa da Misericórdia de Pampilhosa da Serra, desempenham um papel fundamental na prestação de cuidados de saúde, assistência social e apoio comunitário. No entanto, enfrentam desafios únicos que podem comprometer a sua capacidade de atender às necessidades das populações locais.

A escassez de recursos financeiros, na sua maioria provenientes de financiamento público, afetam a qualidade dos serviços oferecidos e dificultam a aquisição de equipamentos modernos e tecnologia de ponta. Acresce a este facto as longas distâncias e acessos, muitas vezes precários, a percorrer entre a sede das instituições e as diferentes localidades nas quais estendemos o conjunto das respostas disponibilizadas à população, traduzindo-se esta ação em mais um esforço financeiro garantido pelas instituições.

A dificuldade em recrutar profissionais técnicos e outros, dispostos a trabalhar em áreas rurais é um desafio diário, resultando muitas vezes numa sobrecarga de trabalho para os restantes colaboradores disponíveis.

A população nestas zonas, em grande número envelhecida, aumenta a demanda por cuidados de saúde a médio/longo prazo, colocando uma pressão adicional sobre as instituições que precisam constantemente de se reinventar para atender às necessidades específicas dos idosos.

As infraestruturas limitadas, nas áreas rurais, dificultam o acesso dos utentes aos serviços de saúde. Vias de comunicação precárias e a falta de transporte público regular tornam a locomoção um desafio adicional, especialmente para aqueles que precisam de atendimento médico frequente, muitas vezes assegurado, relativamente aos seus utentes, pelas instituições que operam no terreno.

Para garantir a sustentabilidade a médio/longo prazo, as Misericórdias do interior necessitam de diversificar as suas fontes de financiamento, procurando parcerias com outras instituições e desenvolvendo estratégias de captação de recursos eficazes. Apesar destes desafios, estas instituições desempenham um papel crucial no apoio às comunidades locais e na promoção do bem-estar de seus residentes. Superar estes obstáculos requer criatividade, resiliência e o apoio contínuo da tutela e outras organizações comprometidas com a melhoria das condições de vida das populações, fundamentalmente nas áreas mais afetadas do país.'

Voz das Misericórdias, edição de dezembro de 2023