O novo elemento que já reforça os afetos na comunidade residente da Misericórdia de Arganil chama-se Hammer, que nasceu, há cerca de cinco meses, com a ninhada “H” na escola portuguesa de cães-guia para cegos, em Mortágua.

O Hammer (que, para alguns utentes, também é Herman ou Ema), apesar de ser um cachorro de poucos meses, já tem uma formação inicial que valoriza a sua intervenção na melhoria da qualidade de vida das pessoas que acompanha na ERPI (estrutura residencial para pessoas idosas) da Misericórdia de Arganil, ajudando os seus companheiros humanos e fazendo a alegria da casa.

“O nosso menino foi bem-recebido por todos”, diz-nos Joana Ribeiro, professora do 1.º ciclo, que coordena o centro de atividades e tempos livres (CATL) e também a animação dos idosos, trabalhando em parceria com a terapeuta ocupacional Joana Videira e a neuropsicóloga clínica Beatriz Tavares. “A vinda do Hammer surge no contexto de um projeto que candidatámos à Fundação la Caixa e ao BPI, o qual consiste em criar na ERPI um conceito de casa ou de lar”, observa Joana Ribeiro, na intenção de que “se aproxime o mais possível” de um tradicional espaço de convivência familiar.

Assim, os idosos são estimulados “a cozinharem, a costurarem, a lavarem a roupa no tanque” e a fazerem “tudo aquilo que os reporta ao antigamente e às suas próprias casas”, sublinha a coordenadora do CATL da Misericórdia de Arganil, instituição que, a 4 de outubro, também celebrou o Dia Mundial do Animal, data que corresponde ao dia de São Francisco de Assis, o santo padroeiro da ecologia e dos animais. Nesse espírito, Joana Videira e Beatriz Tavares tiveram a ideia de criar, na ERPI (com extensão às outras valências e respostas sociais, destacando-se a da saúde), atividades que incluam a “terapia assistida com animais”.

“O Hammer tem um horário idêntico ao meu [na Misericórdia de Arganil] e, depois, vai diariamente para a minha casa, porque é preciso que crie um vínculo comigo, para que, mais facilmente, faça a ponte dos afetos com os idosos”, esclarece a neuropsicóloga clínica.

A terapeuta ocupacional Joana Videira adianta, por sua vez, que o projeto no qual participa este jovem Labrador Retriever “consiste na implementação de dois ambientes adaptados, terapêutico e sensorial, com vista à realização de atividades da vida diária e de atividades instrumentais”. As primeiras são “as mais básicas”, relacionadas com a alimentação e o próprio ato de andar, entre outras. As instrumentais, segundo explica Joana Videira, “são um pouco mais complexas e implicam outro tipo de exigências cognitivas, como a confeção de refeições num ambiente tradicional de cozinha”, estimulando a memória dos intervenientes e a sua mobilidade.

A presença do cachorro complementa “esta ótica de capacitar para a autonomia e para a independência dos utentes”, afirma a professora Joana Ribeiro, acreditando que o Hammer “vai ser um potenciador, ajudando na realização destas atividades que rompem com algumas práticas, indo ao encontro do espaço de casa”. Em vez de vir a ser um guia de uma pessoa invisual, este cão foi escolhido para acompanhar e socializar com os idosos.

“Uma das senhoras que o viu pela primeira vez até lacrimejou. Lágrimas de felicidade. Ela disse-nos que também teve cães. Estas pessoas envolvem-se muito com o Hammer e querem, sempre, saber onde está”, comenta Joana Ribeiro. No entanto, “nesta fase inicial, ainda não vai haver muito contacto, o qual será faseado à medida da sua ambientação, porque ele ainda não tem o treino suficiente para isso”, justifica a neuropsicóloga Beatriz Tavares, recordando que, no âmbito do seu estágio curricular de mestrado, testemunhou que uma idosa que não falava com ninguém passou a fazê-lo depois de interagir com um cão. Daí a sua aposta neste projeto na Misericórdia de Arganil.

A Dona Clarinha – como também tratam a utente Maria Clara –, com 82 anos, não esconde a sua emoção com a proximidade do Hammer. “Quando o vi, senti uma saudade muito grande de um cão que criei. Agora, esqueci-me do nome dele. O cãozinho novo é muito lindo e fazia cá muita falta. Eu acho que todos gostam dele”, expressa, visivelmente emocionada.

 

Voz das Misericórdias, Vitalino José Santos