A Santa Casa da Misericórdia de Avis acolheu recentemente um grupo de cantares populares que se encontrava “órfão”, integrando-o nas suas atividades socioculturais e honrando, desta forma, o seu compromisso e colocando em prática a "salvaguarda e defesa do património cultural e artístico, material e imaterial, religioso ou não".

Conforme explica ao VM Luís Afonso, que assume o papel de ensaiador e organizador, o agora denominado Grupo de Cantares da Santa Casa da Misericórdia de Avis formou-se a partir de um grupo mais antigo que “se encontrava desativado e em risco de desaparecer, pondo em risco a manutenção da tradição dos cantares populares do concelho”.

A Mesa Administrativa da Misericórdia, “atenta e sensível ao património cultural e artístico do concelho”, decidiu apoiar a reativação do grupo, integrando-o nas suas atividades, dando assim continuidade à promoção, divulgação e salvaguarda da música popular do concelho.

A provedora Maria Lisália Madeira refere ao VM que a instituição tinha a noção da necessidade que o grupo tinha de apoio para voltar ao ativo e, estando sensível ao valor cultural deste tipo de dinâmicas, interveio: “Decidimos acolhê-lo e apoiar dentro das nossas possibilidades, inclusive porque temos utentes que já haviam sido integrantes do grupo de cantares”. “Devemos ajudar e apoiar todas estas iniciativas que tenham a ver com cultura e com o dinamismo de experiências antigas”, mesmo que “seja uma experiência nova e diferente do que é o nosso trabalho do dia a dia”, sublinha.

Luís Afonso denota o facto de “este grupo ser o único no concelho de Avis com este repertório, canções populares e muitas delas têm por tema o concelho, e ao estar desativado era um património imaterial e musical que se poderia perder”, e enaltece a ação da Santa Casa por perceber “que era uma necessidade manter, perpetuar e desenvolver algo que faz parte das nossas tradições e da nossa história”.

O ensaiador realça ainda que “este é um grupo que permite às pessoas mais velhas terem uma atividade recreativa, em que se revejam e sintam orgulho na sua tradição”.

Nesta nova fase, o grupo tem vindo a crescer e a conquistar novos elementos. Neste momento, é constituído por 15 pessoas, a maioria mulheres que dão voz às cantigas, acompanhadas por dois acordeonistas e por um grupo de percussão composto por homens, uma organização que respeita o que já estava instituído há mais de três décadas, segundo Artur Pinto, o acordeonista que foi um dos fundadores do grupo e que vê este renascer com muita satisfação.

Com uma voz que não esconde os seus 85 anos, mas que não perde o tom, a Senhorinha Ferreira está no grupo desde a sua criação e a música popular e tradicional faz parte da sua vida. São muitas as memórias que tem dos bailes e convívios de antigamente.

Guardiã de um valioso repertório, que foi recolhendo ao longo dos anos, relacionado com o concelho de Avis e as vivências deste território, assim como músicas da sua autoria, Senhorinha Ferreira realça a importância que este grupo tem. “É um convívio para nós e continuamos a dar voz aos cantares e à música tradicional da nossa terra, são músicas que fizemos ao longo dos anos, outras antigas sobre a mulher alentejana e todas nos recordam uma época em que a nossa diversão era cantar”.

Além do apoio preponderante da Santa Casa de Avis, o Grupo de Cantares conta com o apoio especial de um casal que tem contribuído a vários níveis para a sua dinâmica. O músico e compositor Rodrigo Leão e a esposa Carolina, que têm uma residência em Avis, têm sido “verdadeiros amigos”, destaca Luís Afonso e a provedora Maria Lisália Madeira, que dão como exemplo a oferta de instrumentos e a ajuda “com a gravação da música dos acordeões, porque esta é uma despesa fixa que temos e para tentar poupar pensámos em gravar para fazer os ensaios só de vozes e o Rodrigo disponibilizou-se para o fazer. Têm sido fantásticos e demostrado muito carinho por este grupo. Isso é impagável”, garantem.

Rodrigo Leão, que encontrámos no ensaio a que assistimos, manifestou-nos o carinho que têm por este grupo, revelando que lhe lançaram o desafio de integrar no repertório a música ‘Uma vida tão estranha’, da sua autoria. “Teríamos muito gosto que se concretizasse”, confessa.

Voz das Misericórdias, Patrícia Leitão