A iniciativa colocou em diálogo investigadores e representantes institucionais de Portugal, Espanha e Brasil, abordando os movimentos migratórios, históricos e contemporâneos, a importância das Misericórdias nos fluxos migratórios desde a sua fundação, o modo como os emigrantes contribuíram para o financiamento da ação social destas instituições e ainda o seu papel no apoio a viajantes e peregrinos desde finais do século XV.
Bernardo Reis, provedor da Misericórdia de Braga, reconhece que este congresso sobre as Misericórdias e as migrações mantém atualidade num problema transversal a toda a Europa. Nota que o contexto demográfico de Portugal e da Europa, devido à baixa natalidade, traz problemas estruturais a setores como a construção civil, a agricultura e os serviços, nomeadamente a restauração.
“Se não fossem os imigrantes vindos do Brasil, do Bangladesh e dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), Portugal atravessava um período muito complexo, porque não teria mão de obra. É preciso acolher os migrantes, recebê-los com princípios, com valores, respeitando-os. E eles, por sua vez, também têm de se enquadrar dentro da nossa maneira de ser e de estar”, reforçou, em declarações ao VM.
“O populismo levanta sérios problemas na atualidade, porque é preciso ver o país no seu todo. Neste momento, para Portugal, os imigrantes são fundamentais: para a economia, para o desenvolvimento e até para o ensino”, sublinhou Bernardo Reis.
No primeiro dia, o congresso contou com António Vitorino, presidente do Conselho Nacional para as Migrações e Asilo, na conferência inaugural intitulada ‘Desafios das Migrações Regulares, Ordenadas e Seguras’.
Ainda na manhã de abertura, no painel moderado por António Lázaro (Lab2PT/UM/CHAM), intervieram Vera Barroso (da Misericórdia de Porto Alegre, Brasil), que apresentou os perfis de migrantes portugueses naquela instituição, destacando as trajetórias de ascensão económica e filantrópica; Mariano Cabaço, da União das Misericórdias Portuguesas, com uma análise ao acolhimento nas obras de misericórdia; e Maria de Fátima Reis (FLUL/APH), que abordou os pedidos de passaporte e o fenómeno dos expostos nas Misericórdias da Lisboa do século XIX.
Entre os oradores do segundo dia de trabalhos estiveram Afonso Oliveira (economista), Isabel Estrada Carvalhais, do Centro de Investigação em Ciência Política da Universidade do Minho (CICP/ UM), e Maria Engrácia Leandro, professora catedrática aposentada da UM, numa mesa-redonda dedicada aos movimentos migratórios atuais, moderada por Francisco Mendes (Lab2PT/UM). Marta Lobo de Araújo, professora associada e investigadora do Lab2PT da Universidade do Minho, analisou os efeitos da emigração nas Misericórdias portuguesas entre os séculos XVI e XVIII.
Dedicado ao tema ‘Misericórdias e Migrações’, o quarto congresso da Santa Casa da Misericórdia de Braga teve lugar no hotel Vila Galé.
Voz das Misericórdias, João Martinho