Em fase de pré-programação das comemorações do centenário da Santa Casa da Misericórdia de Condeixa-a-Nova, que se verificará em 2026, a instituição decidiu, entretanto, homenagear todas as pessoas que têm contribuído para o seu desenvolvimento na comunidade local e que continuam a fazer história na Santa Casa, particularmente neste período de pandemia de Covid-19, através da obra “Histórias e Testemunhos de um trabalho invisível”.

Publicada na época natalícia, a referida edição da Misericórdia de Condeixa-a-Nova, no distrito de Coimbra, tem subjacente a ideia de que a “memória é como um músculo, se for exercitada ganha força”. Assim, na nota de abertura subscrita pelo provedor Manuel Branquinho dos Santos e pela Mesa Administrativa, lemos que a Santa Casa, principalmente nesta época pandémica e cheia de incertezas, tem sido “um refúgio que permitiu esbater as fronteiras do isolamento social e uma porta aberta à reinvenção das formas de cuidar dos outros”.

Como é salientado no texto introdutório da publicação – coordenada pelo vice-provedor Miguel Pessoa, com recolha de textos de Carla Marcelino (junto dos utentes, em outubro de 2021) e fotografia de Francisco Pedro –, esta instituição “continua a ser um lugar de recriação, de descanso, de ensino proporcionador do desenvolvimento integral das crianças e de recuperação emocional”.

Também enquanto “espaço de trabalho digno, onde, sobretudo a uma maioria de mulheres, são destinadas tarefas essenciais, para as quais se procura cada vez mais uma melhor compensação e reconhecimento do mérito”, o provedor Manuel Branquinho e os demais elementos da Mesa Administrativa (o vice-provedor Miguel Pessoa, o tesoureiro Joaquim Simões, o secretário João Viais e Luís Oliveira, na qualidade de vogal) afirmam que são, no seu contexto, “desenvolvidas ainda estratégias para que sejam cada vez mais esbatidas as relações de classe, de género, de credo ou da cor do nascimento”.

“Quando uma parte das empresas e dos serviços públicos se encontravam encerrados”, considerando os diversos estados de emergência e os períodos de confinamento impostos pelas circunstâncias pandémicas, “estiveram aqui em curso todas as tarefas relacionadas com os cuidados aos mais idosos, essenciais a quem ao longo de uma vida de trabalho não se privou de dar o seu contributo para o bem-estar dos seus e da sua comunidade”, sublinham os dirigentes da Misericórdia de Condeixa-a-Nova, assumindo que a mesma instituição também foi “escola de acolhimento para que todos os profissionais da linha da frente continuassem o seu trabalho de forma a responder às exigências desta pandemia”.

A obra “Histórias e testemunhos de um trabalho invisível” surge como uma manifestação de gratidão para “quem não teve e não tem descanso”, destacando as pessoas “que cuidam de quem precisa, como sejam os profissionais de saúde, auxiliares de ação direta, trabalhadores das cozinhas, motoristas, fiéis de armazém e entregadores de comida, técnicos e administrativos, educadores e animadores, entre tantos outros”.

“Um dos impulsos que nos levou a organizar esta publicação foi a noção de que existe uma desvalorização histórica dos cuidadores formais e informais, muitas vezes não remunerados, quando na esfera doméstica”, frisam os atuais responsáveis da Misericórdia. “O outro [impulso] foi dar voz aos profissionais do setor dos cuidados aos idosos e de perceber um pouco melhor o trabalho profissional dos que cuidam das crianças”, acentua o provedor Manuel Branquinho, evidenciando o alento da Mesa Administrativa na sua capacidade “de alcançar a superação de modelos que comportam formas de segregação e de sofrimento”.

A capa da aludida publicação reproduz a pintura “Festa do Mar”, de Manuel Filipe, e a contracapa evoca Fortunato de Carvalho Bandeira (1886-1961), que foi doador dos terrenos onde se encontram o Lar 1, o Lar 2 e o Lar 3 (da estrutura residencial para pessoas idosas), bem como a cozinha central e o centro de dia da Santa Casa da Misericórdia de Condeixa-a-Nova, além de outros bens que permitiram “em boa parte” a sua construção.

Voz das Misericórdias, Vitalino José Santos