Para inverter o cenário de desertificação do interior do país será necessário ´tomar medidas radicais’ e estimular agentes locais

Coesão social depende de coesão territorial e para inverter o cenário desequilibrado que hoje predomina no País, com um interior fortemente desertificado, é necessário estimular os agentes no território e tomar “medidas radicais”. Estas foram as ideias a orientar o debate no âmbito do painel dedicado ao tema “As Misericórdias Agentes de Desenvolvimento no Território”.

Moderado pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral da UMP, José Silva Peneda, o painel contou com a presença de Jorge Coelho, vice-presidente da Mota Engil, Jorge Botelho, presidente da Associação de Municípios do Algarve (AMAL), e Álvaro Amaro, presidente da Câmara Municipal da Guarda.

Compromisso foi uma das principais palavras a marcar este debate. Para Jorge Botelho, o desenvolvimento territorial depende das comunidades e este compromisso com as populações é determinante não só para a criação de emprego como para a segurança das famílias através do relacionamento direto com as instituições. Por causa da sua natureza, as autarquias estão especialmente sensíveis a esta questão da proximidade, disse o presidente da AMAL. 

Com acordos cumpridos, continuou, as Misericórdias conseguem ser agentes de desenvolvimento do território, contribuindo para dar resposta aos desafios demográficos. 

Também Álvaro Amaro frisou a importância do compromisso, mas também da contratualização e da confiança. Destacando o trabalho do setor social para o desenvolvimento do território, o presidente da Câmara Municipal da Guarda afirmou que são as pessoas o fator mais importante desta equação.

As instituições de proximidade têm uma relação de compromisso direto com as populações, disse o autarca, referindo de seguida que o mesmo não acontece com o Estado, que nem sempre tem uma relação de compromisso e confiança nem com as pessoas, nem com as instituições locais. Nada disso é bom para a qualidade da democracia portuguesa, afirmou Álvaro Amaro, deixando ainda uma pergunta:
por que razão não havemos de exigir do Estado uma relação de confiança?

O painel terminou com a intervenção de Jorge Coelho, vice-presidente da Mota Engil, com um forte apelo sobre aquilo que considerou ser “um problema sério na estrutura” do País.  Os números dão nota do desequilíbrio. Cerca de 60% da população está na faixa costeira, 45% da população concentrada nas regiões metropolitanas de Lisboa e Porto.

Para contrariar “o abandono completo do interior”, Jorge Coelho afirmou que importa “tomar medidas radicais, de pensamento estratégico, do desenvolvimento do país. Não pode ser com medidas mínimas”.

Referindo que não quer viver num país que prescinda da economia social cujo trabalho atenua desigualdades, o vice-presidente da Mota Engil disse que um dos principais problemas deste setor é “a falta de força e capacidade de protesto”. As Misericórdias, continuou, “não são notícia” porque “as políticas positivas não são notícias, não interessam aos meios de comunicação”.

Voz das Misericórdias, Bethania Pagin