Todos os anos a Casa Museu Padre Belo, no Crato, prepara o seu presépio com uma evocação temática que é escolhida em função dos grandes temas do ano. Este ano, inspirada na última obra de misericórdia espiritual que pede que se reze pelos vivos e defuntos, a escolha da composição temática foi “arrojada”, mas marcante e sobretudo provocatória para um despertar de consciências para um dos mais dramáticos fenómenos que assola a sociedade contemporânea: os movimentos de refugiados, migrantes e exilados.

Num ano simbólico para a Casa Museu, que assinala os 20 anos da sua doação, os 15 anos da abertura ao público e os 10 anos do falecimento do seu grande benemérito, a mensagem que o diretor, Mariano Cabaço, quis deixar na escolha do tema que compõe o presépio de 2018 foi também de afirmação perante um flagelo sobre o qual a sociedade se deve interrogar.

“A partir da representação do quadro bíblico da Fuga da Sagrada Família para o Egito, situação provocada por uma ameaça real de perseguição e morte, queremos trazer ao tempo do Natal esta realidade desesperante para milhares de seres humanos”, explica o diretor da Casa Museu, lembrando que “habitualmente, no conforto do nosso sofá, não conseguimos interiorizar o horror das imagens que a televisão nos transmite. Muitas vezes o tratamento jornalístico e os enquadramentos políticos, que embrulham essas notícias, desviam a atenção do essencial das causas e das dramáticas consequências para a sobrevivência das pessoas”, constata.

Com esta composição, que Mariano Cabaço assume ser “arrojada, mas sentida”, a direção da Casa Museu pretende “despertar a reflexão sobre este enorme flagelo do século XXI. Quando se avança tanto no conhecimento e inova na tecnologia, criando mais riqueza e poder, assistimos passivamente a este reverso civilizacional”, lamenta o responsável, recordando ainda que “estas pessoas não buscam melhores condições de vida ou empregos mais prósperos. Estas pessoas fogem da morte e da perseguição”.

Quem visitar este presépio não ficará, certamente, indiferente às questões que lhe são colocadas sobre o papel que cada um e, em particular, toda a sociedade tem ou pode ter perante este drama que “a todos deve envergonhar”.

Voz das Misericórdais, Patrícia Leitão