O último ano desafiou limites individuais e coletivos, exigindo leituras atentas da realidade e reajustes permanentes da intervenção. Na transição para 2021, a vacina trouxe esperança, mas a regra continua a ser proteger, cuidar e resistir. Para assinalar a data, recolhemos os testemunhos de 13 “heróis anónimos” que garantiram cuidados a quem mais precisava. Não hesitam em dizer que “voltariam a fazer tudo de novo” e atribuem o mérito à equipa que servem de forma comprometida. Relatos de quem cuida por vocação.

‘Quando é que isto termina?’

A preocupação com a saúde mental de utentes e colaboradores não é uma novidade na Misericórdia de Portimão, mas 2020 evidenciou a necessidade de intervenção nesta área. Sara Valadas não se lembra de ter vivido um “período tão exigente” na sua carreira profissional.

Entre tudo o que se perdeu, nota que o afastamento dos familiares, em relação ao processo de recuperação dos utentes, foi o elemento mais desestabilizador no contexto de pandemia. “A maior necessidade dos utentes prende-se com a partilha de afetos, os abraços, beijos e sorrisos que se perderam”.

Por mais que tentem compensá-los com videochamadas e visitas na varanda, custa não ter resposta para a pergunta “quando é que isto termina?”.

Por enquanto, não é possível avaliar todos os danos causados, mas a psicóloga estima que o “custo das vidas que pararam seja grande”.

O plano de cuidados dos utentes mantém-se, mas as atividades de reabilitação e animação em grupo estão condicionadas.

A fadiga e a impaciência surgem como reações a estas limitações. Até quando, perguntam. “Temos de ser criativos, mas queríamos ter mais para lhes dar”.

Adaptação é a chave da sobrevivência neste contexto em que a “incerteza é a única certeza que temos”.

Sara Valadas, 30 anos, psicóloga, Misericórdia de Portimão