No mês em que é celebrado o Dia da Mãe e o Dia da Família, o VM foi conversar com uma idosa que hoje reside num dos lares da Misericórdia de Bragança. Com muitos filhos, netos e até bisnetos, Adélia dos Prazeres é o rosto que representa os milhares de idosos que atualmente estão a ser apoiados pelas Santas Casas.

Por trás das rugas e dos olhos cansados estão histórias de vida merecedoras de respeito, estão anos de trabalho e de dedicação à família. 

Nas Misericórdias todos sabem que os idosos são guardiães de uma sabedoria adquirida através de vivências e experiências. Todos sabem também que, na atualidade, muitas famílias precisam de ajuda quando chega o momento de cuidar dos mais velhos. Adélia é, por isso, um dos elementos que compõem esta grande família que representam as instituições que trabalham na área do envelhecimento.

“Ainda hoje gosto de ser mãe”, sentencia esta idosa, progenitora de nove filhos. A sua biografia, de 98 anos, é marcada pela família numerosa que lhe coube em sorte. “Trazia os meus filhos bem vestidos e bem calçados. Criei-os a todos bem e eduquei-os”, diz, orgulhosa, a utente da Misericórdia de Bragança. 

O princípio de tudo começou numa noite de verão em plena Cidadela de Bragança, zona muralhada que é o berço da cidade. As raparigas organizavam bailes e foi, entre uma dança e outra, que Adélia conheceu Adriano Marques, um jovem de Vila Pouca de Aguiar. “Namorámos pouco tempo e casámos na igreja de Santa Maria, onde foram batizados todos os nossos filhos.”

Nascida a 12 de maio, na aldeia de Tinhela [Valpaços], Adélia contraiu matrimónio aos 21 anos e “o mais velho nasceu a seguir”. A mais nova da descendência tem agora 53 anos. “Eu é que decidia os nomes. O meu homem não se metia, porque tudo o que eu fizesse estava bem”, revela. 

Os filhos herdaram as feições paternas: “o meu marido era muito lindo e muito bom”. “O meu homem era um santo. Não queria que lhes batesse e eu até ralhava com ele: ‘pois, tu não lhes dás educação nem queres que lhes dê’”, lembra. A disciplina era férrea e sem exceções: “os meus filhos nunca me trataram por ‘tu’. É tudo ‘a senhora’. E quando tocava a Santíssima Trindade, tinham de recolher a casa”.

Adélia defende que os filhos se “criavam melhor antes do que agora”. “Nunca tive dificuldades para comer, porque o meu marido era serrador e trabalhava muito. Todos estudaram até que quiseram, mas todos têm a 4ª classe”, frisa. Além de criar animais e cuidar da horta, as mãos de Adélia faziam fumeiro, folares e até ajudavam a nascer as crianças da vizinhança.

A figura da mãe, vista como “mulher guerreira”, é retratada em versos escritos pela filha Conceição Marques: “Tem o coração sempre cheio / Com os filhos, filhas e netos. / Passa dias, horas soturnas / Olhando as mãos enrugadas / Procura em cada sulco, outras vidas já passadas!” Aos 61 anos, Conceição confidencia que a mãe era “demasiado exigente” e que teve de “ajudar a criar a irmã mais nova”, mas sublinha que Adélia “foi sempre e continua a ser uma avó meiga e carinhosa”.

Uma impressão corroborada pela neta Cristiana Silva. “O colinho dela era maravilhoso. Contava-nos histórias e ensinava-nos a fazer imensas coisas”. Na memória da neta, de 34 anos, ficou “o cheirinho do café pela manhã e as torradinhas no lume”, naqueles saudosos fins de semana de partilhas. Por tudo isso, Adélia passou a ter como cognome “a avó do Castelo”. “Os meus netos ficavam todos contentes quando estavam comigo. Quando eram pequenos, subia com eles à Torre e descia ao Poço do Caracol”, relata.

O tempo ditou distâncias, porque os filhos “casaram e cada um procurou a sua vida”. Deram-lhe 27 netos e outros tantos bisnetos. Adélia enviuvou há 13 anos e tem, agora, a família espalhada por Portugal, Espanha e França. “Todas as noites, rezo o terço ao deitar-me e peço muito por todos eles, que Nosso Senhor os abençoe.” Voz das Misericórdias, Patrícia Posse

 


Família enquanto sinónimo de tradição

A Misericórdia de Condeixa a Nova envolveu todos os utentes das respostas sociais de infância e terceira idade nas comemorações do Dia Internacional da Família. Na creche “Pezinhos de Lã”, a efeméride foi assinalada, no dia 15 de maio, com um ateliê de culinária orientado por uma das colaboradoras. Segundo nota da instituição, o objetivo da iniciativa foi transmitir aos mais novos que “família é sinónimo de tradição”.

Jogos ao ar livre e redes sociais

Alfeizerão, Amares, Angra do Heroísmo, Constância, Gondomar, Porto de Mós, Sardoal, Salvaterra de Magos e Torres Vedras são exemplos de Misericórdias que promoveram iniciativas para celebrar o Dia Internacional da Família. Jogos, atividades ao ar livre, vídeos e fotografias em redes sociais são exemplos de como as Misericórdias marcaram a data, mobilizando para o efeito os familiares dos utentes que apoiam.

‘Mãe de barriga ou mãe de vida’

No dia da mãe, os utentes e funcionários da Misericórdia de Canha foram brindados com uma “surpresa muito especial” que, segundo nota da instituição, pretendeu homenagear todas as progenitoras, "mãe de barriga ou mãe de vida, mãe desde sempre ou escolhida”. Na data assinalada no primeiro domingo de maio, os idosos receberam com satisfação um embrulho de biscoitos caseiros, acompanhado de uma mensagem alusiva à efeméride.

Valorizar o papel da família na sociedade

O Dia Internacional da Família foi criado em 1993 pela Assembleia Geral das Nações Unidas para valorizar o papel da família na sociedade. A efeméride visa ainda chamar a atenção da população para a importância da família como núcleo vital da sociedade e para seus direitos e responsabilidades e promover o conhecimento relacionado com as questões sociais, económicas e demográficas que afetam a estrutura familiar.