Quando nasceu, há 25 anos, no seio da Academia de Música e Dança do Fundão (AMDF), da Santa Casa da Misericórdia local, foi um dos primeiros concursos do género em Portugal. “Quando lançámos o concurso, em Portugal existiam, para estes níveis etários, talvez dois concursos, hoje há dezenas que seguem o modelo que nós construímos”, recorda João Correia, diretor executivo da AMDF. A primeira edição só tinha a vertente de piano, depois foram acrescentados novos instrumentos: guitarra e violino. “Tivemos ainda uma incursão pelo violoncelo, pelo canto e pelo saxofone”. Em 2025, como vem acontecendo nos últimos anos, o Concurso Internacional Cidade do Fundão teve as vertentes de guitarra, piano, violino e saxofone e 101 concorrentes. “É excelente” e vêm de todo o país, “do Algarve ao Minho”.

A seguir à pandemia, houve um decréscimo no número de participantes, mas este ano, “voltámos a patamares anteriores, não do início, nos primeiros tínhamos mais de 200 concorrentes” recorda o diretor da Academia, que explica o decréscimo de participantes com o aumento do número de concursos.

“Mesmo tendo a possibilidade de fazer as eliminatórias através de prova de gravação online - só as finais é que são presenciais, exceto nos mais pequenos, que fazem prova única -, os pais têm de contar, pelo menos, com duas ou três noites no Fundão e isso é um custo.” Além disso, acrescenta, “o nosso concurso, desde o princípio, tem um patamar de exigência elevado.”

A Academia de Música e Dança do Fundão não abdica da qualidade, que tem sido a imagem de marca deste festival e que é assegurada pelo júri. “Temos cuidado na escolha dos jurados, para serem pessoas que dão a garantia de isenção e hoje já temos professores de outras escolas do país que têm a tradição de prepararem os alunos para trazerem ao concurso do Fundão.”

Desde há três anos que o Concurso Internacional Cidade do Fundão evoluiu para Festival Internacional Cidade do Fundão. À vertente competitiva foi acrescentada uma outra vertente que permite um maior envolvimento da comunidade, uma agenda cultural, durante a semana em que decorre o evento, sempre na primeira semana de julho, desde há 25 anos.

O provedor da Santa Casa da Misericórdia do Fundão, Jorge Gaspar, justifica a alteração: “Quisemos que fosse mais do que um concurso, há muitos festivais de vários tipos de música e há poucos de música clássica, erudita. Achámos que tínhamos aqui uma oportunidade para conciliar a parte mais competitiva com uma agenda cultural de espetáculos ao longo da semana do concurso, que tivéssemos também masterclasses em diversas áreas e outras atividades que, no futuro, possamos vir a ter durante o festival. Eu lancei o repto até para conciliarmos a música clássica com outros tipos de música, moderna, jazz.”

A verdade é que se no primeiro ano não foi fácil, neste terceiro ano de festival foi possível ter concertos e público ao longo de toda a semana do festival, permitindo ainda que jovens participantes noutros concursos regressassem ao Fundão, uns como professores outros para participarem nos concertos que decorreram ao longo da semana.

João Correia destaca ainda a masterclass de saxofone, com 40 participantes, que se realizou durante dois dias, “com uma característica especial, a orientação do estágio reuniu numa orquestra gente que está no ensino superior, básico e secundário”.

Na passagem das bodas de prata do concurso e dos quase 30 anos da AMDF que nasceu no seio da Misericórdia, Jorge Gaspar admite que antes de sair do cargo de provedor gostaria de deixar a Academia instalada numa nova casa. “A nossa escola de ensino artístico tem protocolo com o Ministério de Educação há cerca de 30 anos” e é também uma resposta social na medida em que “mesmo alunos que não optem pelo articulado ou que não têm lugar no articulado não deixam de frequentar a Academia”, que realizou, só no último ano letivo, 150 concertos.

Voz das Misericórdias, Paula Brito Batista