O cardeal Américo Aguiar esteve reunido com as Misericórdias da diocese e com o presidente e tesoureiro da UMP, Manuel de Lemos e José Rabaça, uma semana após a tomada de posse como bispo de Setúbal. O encontro aconteceu com as Misericórdias da Península de Setúbal, que integram a diocese, e permitiu transmitir as principais preocupações das instituições, relacionadas com a sustentabilidade e conjuntura sociopolítica atual. Desde que tomou posse, D. Américo Aguiar visitou várias entidades da sociedade civil, preconizando uma ideia já defendida pelo Papa Francisco “quando fala na tal Igreja em saída”.

 “Estamos a falar da matriz das Misericórdias, a Senhora da Visitação, que vai ao encontro do outro. Como sou eu que estou a chegar a esta diocese, é minha obrigação ir ao encontro dos protagonistas da sociedade, civis, militares, forças de segurança, Misericórdias e associações”, adiantou ao VM no início do encontro. Valorizou, por isso, a oportunidade de se reunir com os “provedores das Misericórdias, que aqui existem e persistem, e também com os órgãos sociais da UMP, que há décadas faz um trabalho de sinergias e de ganhar escalas em tantas matérias”.

Confessando-se um “apaixonado das Misericórdias e irmão de algumas na região do Porto”, destacou ainda o papel fundamental destas organizações no apoio à população, em momentos de crise, e na “estruturação da pastoral socio-caritativa” ao lado de outras instituições sociais. Lembrou ainda a urgência da atuação das Misericórdias, considerando que as “pessoas a quem dirigimos as 14 obras de misericórdia não podem esperar, precisam comida, teto e formação”.

Em representação das Santas Casas do distrito, o presidente do Secretariado Regional reconheceu a importância da reunião com o cardeal e destacou a necessidade de enfrentar os problemas de sustentabilidade das Misericórdias, sob pena de comprometer a ação nalgumas áreas de atividade. “Se o problema da sustentabilidade não for considerado muito rapidamente pelo Governo poderão haver muitas a encerrar algumas das suas valências”.

Fernando Cardoso Ferreira lembrou ainda que cabe ao Estado a responsabilidade constitucional de comparticipar equitativamente os serviços contratualizados com o setor social, “que desde o tempo do engenheiro Guterres (como primeiro-ministro) ficou estimada em cerca de 50% dos custos, mas que, neste momento, anda na casa dos 36%”.

Desde que tomou posse, no dia 26 de outubro, D. Américo Aguiar visitou várias instituições da região de Setúbal e encontrou-se com jovens da diocese, preconizando uma ideia já defendida aquando da sua nomeação como bispo, a 21 de outubro, de “conseguir chegar a todos, estar com todos e para todos”. “Que lutemos por agir no concreto e estar próximos dos mais frágeis, dos doentes, dos idosos, dos presos, dos desempregados, dos migrantes e dos refugiados” referiu nessa saudação enviada à comunidade diocesana.

Entre as onze Misericórdias que integram a diocese de Setúbal incluem-se: Alcochete, Alhos Vedros, Almada, Azeitão, Barreiro, Canha, Montijo, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal.

Poucos dias depois, no âmbito da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), os bispos destacaram, em comunicado, “a grave situação em que vivem muitas famílias no nosso país” e deixaram “uma palavra de reconhecimento às mais de 1700 instituições de solidariedade social da Igreja que, diariamente, ao lado dos mais carenciados, procuram não deixar morrer a sua esperança, apesar de se encontrarem, também elas, em dramáticas situações no que se refere à sua sustentabilidade e viabilidade futuras”.

Neste quadro, os bispos – que ouviram representantes de quatro organizações, entre elas a UMP – reforçaram a necessidade de atualização das comparticipações, de acordo com o Pacto de Cooperação para a Solidariedade Social, na ordem dos 50%, por parte do Estado. “Neste período especial de preparação de eleições, esperamos dos partidos políticos uma programação que contemple a viabilidade do setor social”, refere a mesma nota.

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas