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- Interioridade | Fragilidade estrutural que exige discriminação positiva
Com responsabilidades políticas há mais de 20 anos, tendo sido presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide nos últimos 12, António Pita destaca a importância das IPSS no Alto Alentejo, sublinhando que, apesar das dificuldades, estas entidades continuam a ser “um pilar insubstituível no apoio às populações”.
“Historicamente, Castelo de Vide teve a sorte de contar com instituições exemplares. Muitas delas são seculares e foram-se adaptando a tempos muito difíceis. Modernizaram-se e garantem hoje respostas de grande qualidade”, afirma o ex-autarca, realçando o papel particular da Misericórdia.
Segundo António Pita, a Santa Casa “enfrentou um grande desafio”: adaptar edifícios seculares às exigências atuais. Essa transformação exigiu soluções técnicas complexas e também um esforço financeiro “absolutamente assinalável”, apenas possível através de capitais próprios e de fundos de apoio, uma vez que as receitas “são manifestamente insuficientes para dar resposta às necessidades”.
Graças a esse esforço, o concelho de Castelo de Vide dispõe hoje de equipamentos modernos, capazes de responder às exigências legais e às necessidades dos utentes, aliados ao profissionalismo das equipas que os sustentam.
A questão patrimonial das Misericórdias, sobretudo a alienação de património para reforçar a situação financeira das instituições, é algo que também se tornou comum neste território, resultado da necessidade de ter capitais próprios para a realização de investimento, sobretudo na modernização de equipamentos, ou até mesmo como forma de terem mais estabilidade financeira.
A Santa Casa de Castelo de Vide é exemplo disso, em que para apoiar a sustentabilidade da instituição foi feita recentemente a venda de alguns prédios, entre os quais uma igreja. Neste caso, o município interveio adquirindo o imóvel por 350 mil euros. “Foi uma forma de aliviar a pressão financeira da Santa Casa e, ao mesmo tempo, preservar um património que permanecerá ao serviço da população, agora com vocação cultural”, explicou António Pita.
O autarca não esconde as preocupações, considerando que “as IPSS estão muitas vezes a substituir-se ao Estado, sobretudo na área da saúde e da ação social. E fazem-no com custos elevados, suportados por dirigentes voluntários que asseguram a gestão.
Apesar da recente atualização dos acordos de cooperação, a comparticipação pública continua aquém das reais necessidades”, lamenta.
Também António Pita destaca o desafio do recrutamento de recursos humanos, cada vez mais difícil no interior. “Temos uma dupla penalização: a falta de população ativa qualificada e uma população envelhecida com rendimentos muito baixos, incapaz de suportar financeiramente as respostas que lhes são necessárias. É uma fragilidade estrutural que exige uma discriminação positiva para territórios como o nosso”, defende.
Apesar deste cenário, António Pita considera que a missão das Misericórdias é insubstituível. “Sem estas instituições não haveria resposta nem dignidade para muitos idosos no interior”.
Voz das Misericórdias, Patrícia Leitão