O Teatro Ribeiro Conceição acolheu entidades, funcionários, irmãos e amigos da Santa Casa da Misericórdia de Lamego para celebrar os 500 anos da instituição que nasceu em 20 de abril de 1519, por iniciativa de um grupo de homens visionários, 21 anos após a Rainha D. Leonor ter fundado a Santa Casa de Lisboa.

Ali, no mesmo lugar onde há 500 era o Terreiro da Sé, à beira do rio Coura, que, no século XVIII (1727), se deu início à construção do “Hospital Novo”, exatamente onde hoje está o Teatro Ribeiro Conceição.

Dados e curiosidades históricas que o provedor, António Marques Luís, não quis deixar cair no esquecimento perante todos os que se juntaram para prestigiar a instituição, desde o presidente da União das Misericórdias de Portuguesas, Manuel de Lemos, ao assessor do presidente da República para a área da saúde, Mário Pinto, às entidades mais locais e distritais como a diretora do Centro Distrital de Viseu do Instituto de Segurança Social, Márcia Martins, o presidente da Câmara de Lamego, Ângelo Moura, e o bispo da diocese de Lamego, D. António Couto, que abriu a cerimónia com uma Oração de Sapiência.

Aos restantes convidados não faltaram agradecimentos pelo trabalho e colaboração feita até aqui, palavras de incentivo para continuar, reconhecimento pelo bem prestado à sociedade, mas também não ficaram por fazer alguns pedidos, na voz do provedor de Lamego, para que a Misericórdia “continue a prestar cuidados de qualidade, acompanhada de sustentabilidade económico financeira”.

“Temos um projeto em desenvolvimento, que consiste na requalificação da estrutura residencial para idosos de Arneirós e, se há 3 anos dissemos que queríamos iniciar esta obra, hoje afirmamos que a queremos ainda terminar este ano, de modo a dotar esta valência de condições físicas de excelência, nomeadamente no acompanhamento dos nossos utentes com problemas de demência, um problema de saúde pública grave, porque de grande prevalência e de grande repercussão no utente e na sua família”, defendeu o provedor.

António Marques Luís considerou que “não é mais aceitável que não se continue a dar uma muito particular atenção a este tipo de utentes e por isso esta valência ir-se-á diferenciar, numa parte da sua estrutura física, e no conjunto de profissionais e de atividades, para o acompanhamento adequado desses utentes”.

A obra de reestruturação tem, segundo o provedor, um investimento de cerca de 1,5 milhão de euros, “o esforço maior alguma vez feito por esta instituição e até ao momento só apoiado pelo Fundo Rainha D. Leonor, em cerca de 300 mil euros”.

Neste sentido, o provedor aproveitou as diversas entidades para apelar ao contributo, já que a obra a levar a cabo é realizada “em nome de uma política de revalorização das valências” da instituição lamecense, “de modo a adaptá-las às exigências de uma prestação de cuidados com modernidade, qualidade e humanização”.

Ao presidente da Câmara de Lamego, o provedor da Santa Casa sentiu “obrigação de solicitar ao executivo” lamecense que “continue a definir claramente as estratégias necessárias ao desenvolvimento de uma política interventiva, participada e integrada de ação social no concelho, incentivando que essa discussão se faça no sentido de se encontrar uma articulação e complementaridade entre as várias IPSS e não se permitindo que a competição entre IPSS sirva, não para uma mais qualificada e mais diversificada atividade assistencial, mas sim para uma luta desenfreada na procura de utentes com a consequente repercussão na qualidade dos cuidados prestados”.

Ao longo da sua intervenção, António Marques Luís foi vincando as necessidades dos lamecenses mais desprotegidos que acabam por ser as pessoas a quem a Misericórdia presta os seus cuidados e, também por isso, o provedor aproveitou para citar o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social no encontro em que esteve da União das Misericórdias.

“Como o senhor ministro afirmou, a relação entre o Estado e as Misericórdias é própria, original e distinta de outras parcerias e trata-se de uma relação de cooperação, com mobilização combinada de recursos, e não é subcontratação nem concessão, é prestação de serviços com financiamento aos utentes a quem ele é prestado”, lembrou.

Neste sentido, o provedor defendeu que “é fundamental, repensar modelos de financiamento e conciliar num triangulo virtuoso: financiamento público, responsabilidade das famílias e sustentabilidade, avaliando os custos reais de cada resposta social, diferenciando os apoios de acordo com a natureza das respostas”.

“É urgente, avaliar os custos reais de cada resposta social e financiá-las de acordo com esses custos, tratando de forma distinta o que não é igual. É imperioso fazê-lo e com urgência. Amanhã pode ser tarde, para muitas instituições”, apelou.

“Temos todos que nos empenhar em que a relação entre o Estado e as Misericórdias seja económica, financeira, social e politicamente estável”, concluiu António Marques Luís durante a sessão que inaugurou a comemoração dos 500 anos da Misericórdia de Lamego.

Voz das Misericórdias, Isabel Marques Nogueira