“Os problemas não são exatamente os mesmos de há quatro séculos e meio, mas socialmente são tão preocupantes.

E olhar para o futuro é fortalecer o presente”, declarou João Miranda da Franca, o provedor da Santa Casa da Misericórdia da Lousã, na gala comemorativa dos 450 anos da instituição, realizada a 1 de Outubro, no cineteatro local.

“Longo foi o caminho percorrido até aos dias de hoje, sendo só possível esta cerimónia face ao trabalho e dedicação de todos quantos nos antecederam”, observou João da Franca, que gere o quotidiano da Misericórdia da Lousã há cerca de 25 anos e que é o 150.º provedor desde Luís Bayão Carrisso (em 1691), o primeiro provedor de que, ali, se tem conhecimento.

“O tempo tem sido testemunha de que os problemas de uma geração, quase sempre, continuam nas gerações seguintes. E, assim, a nossa instituição foi justificando a sua existência, pela partilha e amor ao próximo, sabendo moldar-se e adaptar-se”, notava João da Franca, salientando a capacidade que a Misericórdia tem tido em “acompanhar a evolução dos tempos, distinguindo o útil do fútil”.

A Misericórdia da Lousã surgiu em 2 de Setembro de 1566, “desconhecendo-se qualquer documento respeitante à ação desenvolvida no primeiro século de existência, que não algumas atas de sessões da mesa administrativa e o alvará régio de D. Sebastião, que aprova o compromisso da Irmandade da Misericórdia”, sublinhou o provedor.

“A grande explosão dinâmica desta Misericórdia, a meu ver, deu-se com a construção do Hospital de São João”, continuou Miranda da Franca, louvando a iniciativa de um lousanense que emigrou para o Brasil (João de Carvalho Monte Negro) e que se associou a “um grupo de cidadãos dedicados à sua terra” para, em 1865, “constituir uma comissão à qual se deu o empreendimento da construção de uma unidade hospitalar”. As obras terão sido concluídas a 1 de Março de 1868, “mas sem meios para o abrir”. Daí que tenha, então, sido entregue à Santa Casa, vista como uma “instituição local de assistência social com melhores condições para a sua gestão”.

Mais tarde, “com a nacionalização dos hospitais, surge uma Misericórdia sem subsistema hospitalar”, dando origem ao Centro de Saúde da Lousã, o qual viria, entretanto, a instalar-se noutro espaço.

Os 450 anos da Misericórdia foram igualmente comemorados com uma exposição, na capela, mostrando aos utentes e à comunidade lousanense diversos objetos e alfaias de cariz religioso, entre os quais um conjunto de paramentos dos séculos XVIII e XIX, cálices, patenas e uma custódia.

A gala comemorativa, na qual foi apresentado o hino da instituição, foi coordenada por Joana Cardoso e, segundo o provedor, procurou “recriar alguns aspetos da vida quotidiana” e “divulgar a modernidade das obras de misericórdia”, que vão sendo praticadas diariamente.

 

Reportagem disponível na íntegra na edição de novembro do “Voz das Misericórdias”.