O serviço de apoio domiciliário (SAD) é a alternativa para muitos idosos que são ainda independentes e não querem abandonar as suas casas. Através de alguma ajuda de terceiros, as pessoas conseguem viver com dignidade e com maior autonomia.
Em todo o país, as Misericórdias prestam este tipo de serviço e, em alguns concelhos, se não fosse esta instituição, os idosos não teriam como ser apoiados nas suas habitações. Este é o cenário nos concelhos de Mesão Frio e Boticas, no distrito de Vila Real. Apesar da pouca opção de escolha, segundo dados revelados pela Carta Social, a procura é significativamente mais baixa em relação à capacidade de oferta.
No caso da Santa Casa da Misericórdia de Boticas, há cinco equipamentos com SAD: Boticas, Lavradas, Atilhó, Covas do Barroso e Dornelas. Contactada pelo VM, a Misericórdia de Boticas revelou que 102 pessoas recorrem ao serviço de apoio domiciliário da instituição, que tem uma capacidade de 212 utentes. Ou seja, mais de 50% das vagas estão disponíveis.
A instituição justifica que esta discrepância se deve a dois fatores. "Este serviço não acompanha a oferta disponível, condicionada por motivos financeiros e procura tardia, dificultando a integração do utente, que muitas vezes já necessita de cuidados mais exigentes e específicos”, adiantou Cecília Freitas, diretora do SAD.
De acordo com a legislação, as pessoas que queiram usufruir de apoio domiciliário terão de “comparticipar uma percentagem do seu rendimento” e, segundo a diretora, “muitos preferem viver com menos apoio especializado e contar apenas com a retaguarda familiar”.
Há também “muitos casos” de pessoas que procuram o SAD quando já estão numa condição de “grande fragilidade e dependência” e, nessas situações, a solução passa por lares e centros de dia, uma vez que o SAD “deixa de ser uma resposta suficiente”.
Embora o número de idosos apoiados pela Misericórdia de Boticas seja bastante inferior à sua capacidade, a instituição reconhece a importância do apoio domiciliário. “O SAD desempenha um papel fundamental em regiões com baixa densidade populacional e maioritariamente população já idosa, como é o caso do nosso concelho. Nestes contextos, onde a desertificação territorial e o envelhecimento da população são desafios preponderantes, o SAD surge como uma resposta essencial para garantir a qualidade de vida e o bem-estar dos cidadãos mais vulneráveis”, frisou Cecília Freitas.
Por outro lado, em Mesão Frio, onde também só há a oferta da Misericórdia, a situação é bastante diferente. Patrícia Pereira, diretora técnica, avançou ao VM que o SAD está “praticamente lotado”.
A capacidade é de 118 utentes e 116 estão ocupadas. Segundo a responsável, “há cada vez mais pessoas a precisarem deste serviço” e, por isso, considera que é “uma mais-valia para as famílias”. “Se muitos idosos se conseguirem manter nas casas, tanto melhor”, vincou, salientando que é uma forma de dar “mais conforto aos familiares que são cuidadores”.
De acordo com Patrícia Pereira, além dos idosos do concelho de Mesão Frio, também apoiam pessoas do concelho vizinho, Baião. "As necessidades vão aparecendo e o objetivo é chegarmos ao máximo de população possível”.
Por reconhecer as condições dos idosos e as suas necessidades, a Misericórdia de Mesão Frio está ainda a desenvolver um projeto de teleassistência, em parceria com a Cruz Vermelha. “Consideramos que esta população, estando muitas vezes isolada e sozinha, pode sofrer acidentes e quedas e este serviço pode ter proximidade com os serviços e maior segurança. Já tivemos casos de idosos que caíram e só quando chegaram as funcionárias de apoio domiciliário é que foi encontrado o idoso caído”, concluiu Patrícia Pereira.
Voz das Misericórdias, Ângela Pais