As Misericórdias recorreram à imaginação para vivenciar a Semana Santa junto de utentes, trabalhadores e comunidade em geral

Viver a Páscoa em plena pandemia foi um desafio exigente, mas não impossível. As portas das igrejas estiveram este ano fechadas aos fiéis, as procissões não saíram às ruas e os almoços em família com o tradicional folar ficaram por partilhar. Foi assim por todo o país, mas as Misericórdias recorreram à imaginação para vivenciar a Semana Santa junto de utentes, trabalhadores e comunidade em geral.

Em Braga, onde a Semana Santa atrai milhares de turistas todos os anos, a Páscoa foi vivida de uma forma diferente este ano. Segundo Bernardo Reis, provedor da Misericórdia, as celebrações foram simples, “com as cerimónias a serem todas canceladas e a ficarem circunscritas a alguns ornamentos que colocámos na praça principal e às tarjas nas principais igrejas para estar presente o espírito da Semana Santa”.

Nos lares de idosos, continuou, “vivemos a Semana Santa com as diretoras técnicas e auxiliares que estavam de serviço a fazer algumas atividades, uma coisa simples, e houve atividade religiosa através da televisão, da internet, com as pessoas a assistirem a todas as cerimónias, quer da Arquidiocese de Braga, quer de Fátima ou do Vaticano”.

Apesar da internet estar a ser “benéfica e a base de tudo neste tempo que vivemos”, por exemplo, para mitigar as saudades e o isolamento dos idosos, Bernardo Reis disse que esta ferramenta não foi suficiente para colmatar a vontade de assistir às procissões e estar com a família. “A Páscoa é uma cerimónia fortemente ligada à família, as pessoas têm uma tendência muito grande para se juntar, para se deslocarem às aldeias, às freguesias e comunidades católicas, os que são católicos, para viverem em família estas cerimónias ligadas à Semana Santa. Para os idosos foi um sofrimento muito grande não o poderem fazer. Mas eles têm compreendido a situação e, apesar de tristes, aceitaram que não podiam sair”.

Joana Galhardo, utente do lar da Misericórdia de Bragança, corrobora com a afirmação de Bernardo Reis. Para ela, “esta Páscoa foi muito triste". A idosa sentiu a falta de não assistir ao vivo à missa da Páscoa “nem de ter a presença de Jesus na Cruz”, do filho, de não ir a casa e assegura que “não há nada que substitua a presença da nossa família nestes dias”.

Para atenuar essa tristeza, a equipa do lar de idosos preparou amêndoas doces para os utentes. Segundo nota da instituição, “trata-se de um gesto de carinho e de ternura, pois é o bem-estar e a alegria dos utentes, a razão pela qual cada profissional dá o seu melhor, dia após dia”. O gesto estendeu-se a outros equipamentos, como o Centro de Educação Especial, que acompanha pessoas com deficiência.

Em Lamego, também os utentes do apoio domiciliário foram surpreendidos com a oferta de uma lembrança alusiva à Páscoa. A iniciativa, refere nota da Misericórdia, visou inspirar os utentes a “manter aberta uma janela de esperança num futuro melhor”. 

A instituição recorreu igualmente às redes sociais para recordar as celebrações da Semana Santa. Na Quinta-Feira Santa, a comunidade foi convidada a rever um dos momentos mais marcantes da religiosidade local: a procissão do Senhor Morto, que todos os anos leva pelas ruas, em silêncio absoluto, o esquife do Senhor Morto. Segundo nota, “é a mais tocante e solene de todas as procissões. Vestidos a rigor com as suas opas, os irmãos da Misericórdia de Lamego acompanham este cortejo noturno que liga a Igreja das Chagas à Igreja Catedral, onde o Bispo da Diocese de Lamego preside a uma celebração litúrgica repleta de fiéis que querem venerar o Senhor.

Em Santar, a Misericórdia também optou por celebrar a Semana Santa com a sua comunidade virtual. Através da partilha de filmes e fotografias que recordam as cerimónias da Semana Santa de anos anteriores, a instituição procurou “celebrar, da forma segura, aquele que é um dos momentos maiores da expressividade religiosa em Santar”.

Neste período de isolamento social, a Páscoa também permitiu, em diversas localidades, a vivência da generosidade da sociedade civil. Em Alvor, o Intermarché ofereceu farinha, ovos, amêndoas doces, bolachas e outros bens alimentares ao lar de idosos. “Uns miminhos que serviram para minimizar os constrangimentos que, nesta quadra da Páscoa, vivemos”, referiu a instituição em nota nas redes sociais. Também no Algarve, em Vila Real de Santo António, a generosidade chegou em forma de folar doce, com a Padaria Real Pão a oferecer 30 folares que foram distribuídos entre os diversos equipamentos da Santa Casa.

Leia também: Quaresma e quarentena: vencer a morte pela vida - Opinião de Mariano Cabaço 

Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves