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- Porto de Mós | Animais que espalham sorrisos e ajudam idosos a recuperar memórias
Desta vez, esse regresso ao passado acontece ao afagar Capêla, uma pequena cabra, e o coelho Benny, que Vera Soares leva em mais uma sessão do projeto desenvolvido pela Associação Solidária e Agrícola Cantinho dos Animais, que, uma vez por semana, promove a interação entre os idosos da instituição e diferentes animais, com o objetivo de oferecer momentos de alegria Animais que espalham sorrisos e ajudam idosos a recuperar memórias e de boa disposição. “Faz-me lembrar os meus tempos de garoto. Cheguei a guardar mais de 100 cabras. Sabia os nomes de todos os vales e cabeços da serra”, conta João Carreira, que todos tratam por Jonhy. Eram, diz, “tempos alegres”, que lhe vêm à memória ao afagar Capêla, que se movimenta na sala de atividades da ERPI com grande à vontade, como se conhecesse os cantos à casa. “Está grande para a idade [seis meses] e já tem cornitos”, constata João Carreira, que nos EUA trabalhou como mecânico. “Troquei as cabras pelos carros”, conta, soltando um sorriso. Ao lado, ‘Mariazinha’, outra utente, bate com as mãos nos joelhos, numa tentativa de que a cabrita lhe suba para o colo. “Anda cá, minha linda”, diz a mulher, dirigindo-se ao animal, que se aproxima e se põe em posição para que lhe afaguem a cabeça.
“Gosta de mimos. Todos gostam, até os animais”, constata Quirina Ladeiro, educadora social que, ao longo da sessão, vai fazendo perguntas aos utentes, alguns deles com problemas de demência, numa tentativa de “reativar” memórias e competências. “É uma atividade que tem imensos benefícios, principalmente com as pessoas que sofrem de algum tipo de demência. A interação com os animais ajuda-os a redescobrir memórias, já que muitos deles sempre tiveram contacto com o mundo rural”, aponta a técnica, frisando que uma das preocupações da instituição “é respeitar a história de vida” dos utentes e “toda a bagagem que trazem”.
DESPERTAR EMOÇÕES
Capêla vai circulando pela sala, recebendo e dando mimos aos utentes, enquanto Vera Soares, voluntária e promotora da iniciativa - recebida "de braços abertos" pela Misericórdia -, tira o coelho Benny da caixa onde é transportado. Será, no entanto, por pouco tempo, porque o animal revela-se inquieto. “O Benny hoje está estranho. Não está nos seus dias”, reconhece a voluntária, que depois de uma breve interação com os utentes volta a colocar o coelho na gaiola.
As atenções focam-se agora em dois exemplares de sedosas do Japão, espécie de galinha, que fazem a sua primeira visita aos utentes e que despertam grande curiosidade. “Nunca tinha visto um bicho destes”, confessa João Carreira. Vera Soares explica que se trata de um galináceo que, em vez de penas, tem pêlos “como os gatos”.
“A carne e a pele das sedosas são pretas, mas o sabor é como o de uma galinha normal. Os ovos são pequenos, semelhantes aos dos pombos, e podem chocar uns 18 de cada vez”, descreve a voluntária, que passa uma das sedosas de colo em colo, para que os utentes lhe possam tocar, despertando sorrisos em muitos deles. “Missão cumprida. É isso que se quer”, diz Vera Soares, também ela com a felicidade estampada no rosto.
Já com a sessão terminada, a fundadora da Associação Solidária e Agrícola Cantinho dos Animais explica que o projeto nasceu de uma situação vivida pelo filho, “vítima de bullying na escola” e que, nessa fase má, encontrou refúgio nos animais. “Funcionavam como o seu abrigo. A interação com eles era o que lhe punha sorrisos na cara”, conta.
Foi a partir dessa experiência e das visitas que fazia aos avós que estavam num lar, durante as quais via “muitos idosos a olhar para o vazio”, que Vera Soares idealizou o projeto. O ‘Espalhar Sorrisos’ nasceu há cerca de um ano, a partir do espaço que a família tem na aldeia do Arrimal, com mais de 100 animais, com o objetivo de “tentar chegar às pessoas”, não só aos mais velhos, mas também às crianças, com visitas a infantários.
“A partir dos animais, conseguimos criar uma relação. Principalmente nos idosos, os animais despertam sensações, emoções e memórias que estavam adormecidas”, salienta Vera Soares, que, em cada sessão, procura também “ouvir” os utentes.
“Além dos benefícios terapêuticos, os encontros ajudam a fortalecer a conexão emocional dos idosos com o mundo ao seu redor, proporcionando-lhes uma sensação de pertença e alegria”, destacam os responsáveis da Misericórdia de Porto de Mós, numa mensagem partilhada nas redes sociais, na qual expressam a convicção de que esta prática “contribui para um envelhecimento mais saudável e positivo”.
Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva