Dulce Gabriel tem 54 anos e há 11 é responsável pela comunicação na Santa Casa da Misericórdia do Fundão.

Nasceu na aldeia histórica de Castelo Novo, na encosta mais rochosa da Serra da Gardunha, e, tal como diz a canção popular da Beira Baixa, “é rija como o granito”. Dulce Gabriel tem 54 anos, é mãe de três filhos e tem uma vida profissional ligada à comunicação. Uma experiência que levou para a Misericórdia do Fundão, onde chegou há 11 anos com vontade “de mudar o mundo”.

No início foi difícil, admite, adaptar o seu enorme entusiasmo a uma organização “onde não havia qualquer trabalho de comunicação”. Depois percebeu que não era possível mudar o mundo “porque o foco das Misericórdias não está na comunicação institucional ou até interna”, mas, ajustadas as ambições às contingências, considera que o trabalho de comunicação que fez em 11 anos foi valorativo para a Santa Casa. “Hoje, a Misericórdia do Fundão está presente em várias plataformas, na imprensa tradicional, tem um podcast e voltou a ter um jornal impresso que durou seis anos”.

A resiliência, a determinação e a boa disposição que a caracterizam, como a própria descreveu num bilhete de identidade que foi para lá dos números, foram determinantes neste trabalho, a começar pelo jornal mensal. “Tinha uma componente de opinião, de história, que era feito por alguns mesários e depois tinha reportagens que eu fazia, sobre os projetos mais interessantes da nossa organização, que é multifacetada e tem valências de diversa natureza”, descreve.

Reportagens que agora coloca no blogue que criou depois do fecho do jornal em papel. “Criei um blogue que está no site da instituição, chama-se ‘Santos da Casa’, onde falo de projetos importantes ou de como a equipa da Santa Casa segue firme a responder aos nossos utentes num território de fogo”, refere ao VM, num dia de agosto em que o Fundão acordou com uma chuva de cinzas e envolto num nevoeiro de fumo.

A comunicação numa instituição como a Misericórdia do Fundão ganha outro significado, desde escrever newsletters, todos os meses, para os mais de 400 irmãos da Misericórdia, “que recebem informação com os momentos mais importantes da nossa vida enquanto organização social”, até comunicar “as ementas da nossa cantina social, da nossa creche, jardim de infância e ATL, comunicar com os irmãos sobre as assembleias gerais”, mas também trabalhar as tradições seculares associadas ao período da Quaresma ou ainda “comunicar coisas tão simples como todas as semanas termos uma missa em memória dos irmãos que já faleceram”.

Depois do verão quer retomar o podcast ‘Escuta, se queres ver!’, inspirado numa expressão popular, uma experiência piloto que tem associado a determinadas efemérides. Retomar o blogue e fazer dele um espaço de reflexão sobre assuntos de interesse é outro dos projetos que tem em mente.

Pedimos-lhe para resumir a sua experiência na Santa Casa: “A minha ida para a Misericórdia do Fundão alargou-me horizontes, tornou-me uma pessoa mais humana e vai fazer de mim uma animadora sociocultural não formal, aliás já está a fazer.” No âmbito de um projeto da instituição, Dulce Gabriel foi regularmente a casa de 20 utentes de apoio domiciliário “contar estórias, jogar jogos cognitivos ou simplesmente jogar conversa fora”.

Dulce Gabriel não conseguiu mudar o mundo, mas abriu as portas e as janelas da Misericórdia do Fundão.

 

Curiosidades

Além do trabalho na Misericórdia do Fundão, Dulce Gabriel mantém uma ligação à rádio local onde conduz alguns programas, de que é exemplo o programa ‘Porque hoje é domingo!’ que vai para o ar, na Rádio Cova da Beira, aos domingos de manhã. Todas as semanas são entrevistadas pessoas como “o contador de estórias, o poeta popular, uma bordadeira ou a senhora do café”.

O percurso profissional de Dulce Gabriel começou como animadora de rádio, daí para a informação foi um salto e foi jornalista durante 22 anos. Voltar ao jornalismo através das entrevistas traz-lhe felicidade. “Na Rádio Cova da Beira sou muito feliz porque não sigo agendas, não faço política, faço programas que me são prazerosos, faço entrevistas com pessoas que estão fora da agenda.

 

Voz das Misericórdias, Paula Brito Batista