Maria Antónia Lopes é doutorada em História Moderna e Contemporânea e professora associada com agregação na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde leciona.

Como investigadora em História Social e Cultural de Portugal, o seu trabalho tem incidido nos que “estão no fundo da escala social, os pobres”, incluindo as mulheres, que “são muito esquecidas”.

Na sua tese de doutoramento ‘Pobreza, assistência e controlo social em Coimbra: 1750-1850’, quis saber “como é que a cidade respondeu a este problema” e estudou o papel desempenhado pelas instituições locais. Sobretudo, a ação da Misericórdia. Através dos requerimentos que os pobres dirigiam à Misericórdia de Coimbra, a investigadora encontrou nos arquivos desta instituição fontes credíveis para “traçar a distribuição topográfica da pobreza urbana”, revelando “as mulheres pobres e envergonhadas que escondiam a sua pobreza”, nos séculos XVIII e XIX. Desde então, tem publicado vários estudos que refletem sobre a ação das Misericórdias, tendo também participado na comissão científica da obra ‘Portugaliae Monumenta Misericordiarum’.

O interesse pela História surgiu ainda na infância, quando já “lia diariamente dois ou três livros”, embora também gostasse de brincar na rua e subir às árvores, sendo “bastante ativa em muitas brincadeiras” e no convívio com a natureza, em Longroiva e em São João da Pesqueira, terra de origem da mãe. Aos 15 anos, mudou de residência para a Guarda. O segundo irmão nasceu quando já tinha dez anos, por isso partilhou muitas brincadeiras com o que lhe era mais próximo na idade. No entanto, não achava justo que a ele, treze meses mais novo, fossem permitidas coisas que lhe eram interditadas. “Mas foi uma infância muito feliz”, declara ao VM, informando que a grande motivadora das inúmeras leituras e, mesmo, da opção por História foi a sua tia paterna, professora de História no ensino liceal.

“Vinham caixas de livros da Civilização Editora, do Porto”, refere, lembrando que, perante a sua avidez de leitora, a tia “deitava as mãos à cabeça, porque era preciso encomendar mais livros”. Das aventuras de ‘Os Cinco’ e da coleção ‘Os Sete’, de Enid Blyton, com 12 ou 13 anos, passou à literatura francófona, igualmente influenciada pela tia, que lhe ensinou francês. “Com essa idade, já tinha lido os grandes escritores franceses do século XIX”, entre eles Victor Hugo, autor do romance ‘Os Miseráveis’. Apreciava ainda livros policiais, “para descansar” e encontrar alguma “evasão”.

A leitura das obras de teologia, que situa num “outro patamar”, surge um pouco mais tarde, quando veio estudar para Coimbra. Ainda mantém esse interesse tardio. Lê todas as obras do académico e seu amigo Frederico Lourenço. Na poesia, tem uma área “muito escolhida”: gosta da lírica de Luís de Camões e de Guerra Junqueiro. Nota que “a ponte entre a poesia e a História é o ser humano”. “A História vai em busca das pessoas e do que elas sentiram e viveram. A poesia é a expressão dos seus sentimentos. Infelizmente, o ser humano tem sido tão mal tratado e incompreendido pelos poderes políticos e públicos”, manifesta.

Enquanto estudante, Maria Antónia Lopes ficou “fascinada” com o movimento do Iluminismo, no século XVIII ou ‘Século das Luzes’, que valorizava a razão. Porém, viria a descobrir o século XIX. “É na cronologia que eu gosto de andar. Quanto aos temas [de investigação] tenho procurado sempre os mais ausentes da historiografia”, salienta. “Atraída por aqueles que eram ocultados”, a sua tese de mestrado abordou a temática das mulheres, “porque estudar o passado humano e esquecer metade da população não é fazer História”.

Voz das Misericórdias, Vitalino José Santos