Quase um quarto deste tempo confunde-se com a trajetória de uma figura que se tornou incontornável na história da instituição: Albino da Silva Martins Poças, o seu provedor entre 2004 e 2023.
“Albino Poças é um cidadão de Valongo, que nasceu em 19 de junho de 1937, que concluiu os estudos primários dez anos depois e em novembro daquele mesmo ano trabalhava num armazém de vinhos a lavar garrafas e garrafões”, começa por contar ao VM, em jeito de autobiografia.
Desde a mais tenra infância o espírito inquieto mostravase presente. “Naquele tempo o meu sonho era ser empregado de escritório”. O seu caráter empreendedor rapidamente o conduziu ao desejado, em 1953, “numa revista agrícola na Avenida dos Aliados”, já desaparecida, onde, nas suas palavras, começa como “rapazinho de escritório”. Ali permaneceu por perto de 20 anos e especializou-se na área da publicidade.
A sua experiência leva-o a outros voos, como adjunto administrativo de uma cadeia comercial, as ‘Galerias Peixoto’, onde viria a passar a outra metade da sua vida profissional ativa. Mas não sem multiplicar-se numa rotina dinâmica: para além de ser pai de família, foi autarca e dirigente de instituições desportivas, comerciais e filantrópicas.
Todavia, a sua ideia é a de que esse trabalho voluntário deve pautar-se pelo recato, mostrando-se renitente a colher louros.
Questionamos o que haverá de mais pitoresco no meio de uma história de vida tão rica. Albino oferece-nos o seu amável sorriso e brinda-nos com esta deliciosa e rica curiosidade: “Sempre apreciei muito o Sá Carneiro, sabe? Nas andanças políticas, cheguei a fazer parte do seu grupo de acompanhamento e segurança no Norte e aqui em Valongo em particular”. Pelos anos 70 foi convidado a tornar-se irmão da Misericórdia. Cerca de dois anos depois, assumiu funções de secretário da Mesa da Assembleia Geral, num momento muito particular, no “calor” das nacionalizações do 25 de Abril, quando a Misericórdia se vê desprovida do hospital. Assistiu nos anos 80 à construção do lar, sempre envolvido no quotidiano da Misericórdia, porém mantendo-se à margem de lugares de gestão, apesar dos convites que lhe foram endereçados, pois, como diz, “não o poderia exercer a tempo inteiro”.
A sua palavra manteve-se inabalável até aposentar-se, quando finalmente acede aos sucessivos reptos e integra a lista eleita então na categoria de vice-provedor. Sucede-se um “estágio” de três anos e, em 2004, assume as rédeas da instituição, a qual viria a capitanear nas duas décadas que se seguiram.
Humanista convicto, é uma presença rotineira em todas as valências da casa, porém mais especificamente no lar, onde aparece logo pelo pequeno almoço para desejar bom dia aos utentes, motivo pelo qual é tão querido pelos idosos: “É preciso ouvi-los, compreender os seus queixumes, dar-lhes alento. Para estarmos numa organização como essa, a pessoa precisa de ter dentro do peito não só o seu coração, mas algo mais para poder dar aos outros”.
“Orgulho-me de nunca ter tido uma proposta rejeitada durante a minha administração”, refere, como prova da sua experiência de gestão, especialmente a humana, mestre nas relações interpessoais. Explica de forma muito simples o sucesso pela sua maneira de viver: “Pautei-me sempre pela meta de não fazer aos outros o que não gostaria que fizessem a mim”.
Voz das Misericórdias, Alexandre Rocha