Alda Lopes é a palhaça Mila Flôr, que, ‘de alma e coração’, faz do riso uma forma de terapia em lares de idosos e escolas

Alda Lopes tem 52 anos e faz do riso uma forma de terapia nos lares e escolas do distrito de Santarém. Durante 30 anos, foi auxiliar de fisioterapia na Misericórdia do Entroncamento e hoje é Mila Flôr, palhaça “de alma e coração” em busca de um sonho: mudar o mundo em cada interação, um sorriso de cada vez. Muitas Misericórdias já lhe abriram as portas.

A sua história começou em Paris, França, onde nasceu e viveu até aos 12 anos. Aqui conheceu a solidariedade entre compatriotas porque “havia muitas associações que serviam de rede de apoio e quando precisávamos de alguma coisa os que tinham chegado antes ajudavam”. Contudo, admite que as memórias da infância são uma mistura entre “construção” e “realidade” porque, entretanto, as histórias que lhe contaram já se mesclaram com as suas vivências.

E a progenitora de 86 anos é uma das figuras que mais alimenta este portefólio. Nesta interação recuperam imagens de um “Portugal profundo”; do pai que “assaltou a fronteira” em busca de melhores condições; ou de quando ajudou a mãe a limpar a casa de franceses.

Aos 12 anos, lembra-se de andar de metro sozinha na capital francesa, entre as aulas de dança, português e catequese, desfrutando, em família, de idas ao cinema, concertos e exposições. Por isso, “foi um choque” quando, nesse ano, regressaram de vez a um país rural. “Quando vinha de férias achava imensa piada a tudo porque o clima era mais agradável, tomava banho nas ribeiras e a minha avó paterna fazia-me sapatos de trapo. Mas quando se tornou definitivo foi diferente”.

Incentivada a fazer bordados, a jovem com sentido de humor e pensamento livre encontra refúgio na dança, teatro e rancho folclórico. “O teatro era uma forma de comunicar e o rancho uma forma de conhecer as tradições do meu país”. Enquanto desenvolve esta faceta performativa, continua a “expressar a sua comicidade” em diferentes contextos.

Aos 19 anos, inicia o seu percurso como auxiliar de fisioterapia no hospital da Misericórdia do Entroncamento e, pela primeira vez, alia o riso ao cuidado do outro. Nesta interação com os doentes, revela que “contava histórias absurdas para aliviar o sofrimento”. Mais tarde, ajuda a dinamizar atividades de animação junto dos utentes da unidade de cuidados continuados.

Mas só quando a filha estava a terminar o curso superior decidiu “viver este sonho”, contactando com profissionais da palhaçaria e investindo em formações variadas. Em 2024, criou o projeto Mila Flôr & Companhia, com Sofia Vale, e desde então já visitou os lares das Misericórdias da Golegã, Vila Nova da Barquinha, Torres Novas, Pombal, Tomar e Ferreira do Zêzere, o Centro de Apoio a Deficientes João Paulo II (UMP) e outras instituições.

De vestidos coloridos, flores no cabelo e adereços improváveis, a dupla encanta com a magia do seu sorriso, transformando aqueles breves instantes em lufadas de ânimo e ternura. “Tem sido muito gratificante, se eu morresse amanhã morria feliz. O único senão é ter contas para pagar. Compreendo que as instituições têm dificuldades, mas tudo tem o seu valor”, lamenta Alda Lopes, revelando que para reforçar o orçamento mensal fazem festas e eventos e procuram patrocínios de empresas para continuar a curar tristezas com o riso.

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas