A Misericórdia de Santarém realizou, no dia 19 de maio, as suas primeiras Jornadas da Saúde, com o tema ‘Cuidar: da Inovação à Prática’, no Convento de São Francisco.

A iniciativa, inserida nas comemorações do 523º aniversário da instituição, pretendeu ser um espaço de reflexão e debate acerca dos desafios que se colocam atualmente ao setor social, uma vez que, na União Europeia, Portugal é dos países mais envelhecidos.

“Os dados dos Censos de 2021 revelam que Portugal está a ter um duplo envelhecimento: um incremento expressivo da população idosa, que cada vez vive mais tempo, e uma redução do número de jovens. Essa realidade é ainda mais expressiva em Santarém”, disse o presidente do município escalabitano, Ricardo Gonçalves, na sessão de abertura. Nesse sentido, afirmou, a ação da Misericórdia de Santarém, a par das outras IPSS do concelho, “tem sido fundamental”.

Uma ideia partilhada pelo diretor da Segurança Social de Santarém, Renato Bento, para quem, contudo, a questão da longevidade tem de ser encarada como uma “boa notícia”.

Na sua intervenção, o responsável deixou ainda um desafio para que as Misericórdias e IPSS se empenhem em “soluções inovadoras” para dar resposta aos desafios do envelhecimento.

Em vez de respostas tradicionais, como lares ou centros de dia, Renato Bento considera que a ‘chave’ poderá estar no apoio domiciliário, capaz de promover a autonomização das pessoas para que fiquem cada vez mais em casa.

Para o provedor da Misericórdia de Santarém, Hermínio Martinho, “o respeito e a dignificação das pessoas é a missão mais importante da instituição”, apontando que, no pós-pandemia, enfrentamos agora “os desafios da guerra na Ucrânia e a inflação que tornam ainda mais difícil a ação da Misericórdia”.

“Precisamos que o Estado trabalhe mais em cooperação connosco, criando condições para que possamos fazer mais em prol das comunidades nas quais estamos inseridos”, apelou.

Presente nestas Jornadas da Saúde, Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), reiterou essa ideia e considerou ser necessário existir, precisamente, uma maior colaboração entre saúde e segurança social.

“No passado, a organização política do Estado tinha o chamado Ministério dos Assuntos Sociais, que tinha um secretário de Estado da Saúde e outro da Segurança Social (SS). Portanto, estava tudo junto. Fomos percorrendo, depois, o caminho da autonomização, o que foi positivo, mas também teve aspetos negativos. A partir de determinada altura, a SS orientou-se no sentido da cooperação e, portanto, sempre trabalhou com as instituições da sociedade civil. Na saúde, houve a ideia que o Estado tinha a capacidade de resolver todos os problemas e, portanto, não precisava de ninguém. Os anos passaram e é evidente que, em termos de esperança de vida, em termos de qualidade de tratamento e investimento, tudo isso aconteceu, mas a história deu a volta e a questão da demografia levou à necessidade imperiosa de a saúde voltar a articular-se com a segurança social”, contextualizou.

Segundo transmitiu o responsável da UMP, a pandemia de Covid-19 trouxe aos lares o pior dos últimos tempos, mas também trouxe outra realidade: a das mudanças fundamentais, quer nas relações - entre saúde e setor social e entre saúde e segurança social - quer nos conceitos, porque o lar do futuro “vai ter de ser diferente, mais especializado, com equipas mais motivadas e menos utentes”.

Nesse sentido, saudou a instalação dos balcões SNS 24 nas estruturas residenciais para idosos, lares residenciais para pessoas com deficiência e nas unidades da rede nacional de cuidados continuados integrados, o que permite assegurar uma resposta de proximidade e qualidade.

“Esta iniciativa contribui para qualificar estes serviços com respostas inovadoras, que facilitam e medeiam o acesso dos seus utentes aos cuidados de saúde do SNS. São um legado da pandemia que veio para ficar e que visa não deixar ninguém para trás”, afirmou, anunciando que, dentro em breve, o distrito de Santarém irá também dispor deste serviço.

Este projeto, concluiu Manuel de Lemos, “é o primeiro passo de uma revolução na prestação de cuidados de saúde à população idosa”.

 

Voz das Misericórdias, Filipe Mendes