“Deixou de ser uma ficção e passou a ser uma realidade para tranquilização da população de Vila Nova de Santo André, que já não acreditava na sua concretização”.

Foi desta forma que Jorge Nunes, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Santiago do Cacém, apresentou a primeira pedra da futura Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI), Residências do Pinhal II, ERPI Padre Manuel Malvar.

“O padre Manuel Malvar dedicou-se aos mais pobres e carenciados desta terra, dirigia o centro de dia e o apoio domiciliário e preparava-se para fazer o lar. Por dedicação à causa dos mais carenciados, era mais que justo pôr o seu nome numa unidade que ele sempre sonhou construir”, explicou sumariamente sobre a razão do nome de batismo.

Após cerca de 20 anos de incertezas, o projeto ganhou forma. “Tudo começou numa conferência, a 17 de maio de 2018, onde estive com o presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinhas, e o presidente da Junta de Freguesia de Santo André, David Gorgulho, onde foram demonstradas as necessidades de um lar para Santo André”, recordou.

A futura ERPI terá a capacidade para 60 camas, 22 quartos duplos, oito quartos simples e oito mistos, serviços de enfermagem e farmácia, ginásio e fisioterapia, apoio domiciliário, centro de dia e 58 casas de banho. “Quase uma por utente”, atirou.

O projeto inclui ainda salas de refeição, um snack-bar, cabeleireiro, gabinetes para técnicos, balneário para colaboradores e salas de atividade e convívio.

“É qualidade, sem ser de luxo. Procurei fazer algo a contar com a minha estadia”, assegurou, acrescentando que o terreno na Avenida Manuel da Fonseca “permite a ampliação” da infraestrutura inserida na paisagem urbanística envolvente, de onde se buscou inspiração. “Aproveitar o que é Santo André, uma cidade moderna, mas também de base tradicional, uma abordagem que vai buscar a modernidade e tudo quanto é tradicional”, sintetizou Amadu Bailó Canté, arquiteto responsável da ERPI.

A obra, a concluir no prazo de “um ano e meio”, terá um investimento de “5,125 milhões de euros” ao qual acresce “entre 400 a 500 mil euros de equipamento”, detalhou Jorge Nunes. Do valor, resulta uma contribuição financeira do PARES 3.0 no valor de “2,3 milhões e 500 mil euros da autarquia (mais cedência do terreno)”, dissecou.

“Faltam 2,3 milhões para a obra. É um enorme esforço da Misericórdia”, frisou Jorge Nunes. Entre as possibilidades de engenharia financeira para fazer face ao diferencial, “iremos recorrer ao crédito bancário ou eventual venda de património que não faça falta às nossas necessidades”, avançou.

Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), pegou na conjuntura económica nacional para explicar. “O aumento do custo das matérias-primas e inflação colocam enormes dificuldades às Misericórdias”, alertou.

Considera, por esse facto, que “faz todo o sentido que o programa PARES reforce verbas” ao setor social, “um setor que vive, sobretudo, das comparticipações, que hoje são menos”, reconheceu. “Vivemos com grande apreensão”, asseverou.

Neste cenário, destaca a “coragem” da Misericórdia de Santiago do Cacém, e de outras, e a “importante articulação” com o Estado e autarquias. “Costumo dizer aos presidentes de câmaras que os nossos clientes são os mesmos. Vale a pena, em conjunto, resolver os problemas das populações e este é um exemplo muito bom”, elogiou.

“Quem para aqui veio, veio para ajudar a desenvolver o país. É, portanto, de enorme urgência que o Estado português se preocupe com eles e os proteja”, disse, ao relembrar a génese do local criado de raiz para servir de dormitório ao complexo industrial de Sines e elevado a cidade em 2003.

Apesar do lar “corresponder às necessidades imediatas da população”, Jorge Nunes sublinhou que “não será suficiente” para servir os “cerca de 11 mil habitantes” de Vila Nova de Santo André, avisou no fecho da cerimónia, que contou com o presidente da Assembleia Geral da Santa Casa, José Catarino, os responsáveis máximos da freguesia de Santo André e câmara de Santiago do Cacém, o bispo diocesano de Beja, D. João Marcos, e da vice-presidente do Instituto de Segurança Social, Catarina Marcelino.

“Hoje (23 de janeiro) apresentámos outro projeto nas mesmas condições, já temos autorização camarária para cedência do terreno e apresentámos um projeto de creche na Segurança Social cuja candidatura será apresentada até ao final do mês”, finalizou.

 

Voz das Misericórdias, Miguel Morgado