Cozinha, lavandaria, serviços de manutenção e armazém são serviços discretos, mas indispensáveis para o funcionamento das Misericórdias

De sete em sete dias as equipas trocam, nalguns casos de 14 em 14. Os turnos passaram a 12 horas para facilitar a gestão das equipas. Todos trabalham a dobrar para que nada falte aos utentes. Na cozinha, lavandaria, serviços de manutenção e armazém, o corpo acusa o cansaço das horas passadas em pé, com centenas de encomendas para rececionar, refeições para preparar e roupas para desinfetar, em tempo recorde. O VM foi conhecer o funcionamento destes serviços essenciais, mas discretos em termos de visibilidade, como forma de homenagear esses trabalhadores.

Da cozinha da Misericórdia de Lamego saem diariamente mais de quatrocentas refeições para os utentes da estrutura residencial para idosos, apoio domiciliário, centro de acolhimento temporário, lar de infância e juventude e famílias carenciadas do concelho. As ementas são definidas pela nutricionista Ana Sofia Rebelo, também responsável pelo aprovisionamento de bens alimentares, de acordo com as necessidades e patologias de cada utente (hipertensão, diabetes, problemas renais ou de deglutição). O que significa que a mesma refeição pode ter diferentes versões, sem sal, com quantidades reduzidas de líquidos ou texturas moles. “São panelas e panelinhas na hora de transportar as refeições”, brinca Ana Sofia Rebelo.

A cozinha central serve equipamentos em diferentes pontos da vila, o que obriga à definição de um circuito de transporte e aquecimento das refeições em “estufas”, específicas para o efeito. Os alimentos são preparados com muito “carinho” por Cândida Brilhante, com 28 anos de casa, e as colegas, mas apesar do empenho, a cozinheira admite divertida que nem sempre se agrada a todos os gostos: “nalguns dias só fazendo uma panela diferente para cada um”.

Neste período de emergência, as funcionárias cumprem turnos mais longos, de 10 horas e meia, e obedecem a medidas de higiene e segurança ainda mais apertadas, como o uso obrigatório de viseiras e luvas, desinfeção regular das mãos e distância mínima entre colegas.

O mesmo acontece em Proença a Nova, no distrito de Castelo Branco, onde o rigor se alia à experiência e empenho no cargo. Segundo a diretora técnica, Andrea Martins, trabalham na equipa da cozinha e refeitório 25 pessoas “muito dedicadas, competentes, responsáveis, uma preciosidade a quem podemos confiar tudo. E nota-se perfeitamente quando a comida é feita com amor e carinho”. Algumas das especialidades mais apreciadas pelos utentes e colaboradores, que também fazem refeições na instituição, são arroz de maranhos com hortelã, prato típico da região, e arroz de pato, outra “iguaria muito bem confecionada”.

Mas para que as cozinheiras possam cumprir a sua função, é necessário garantir matéria prima em condições adequadas e nos prazos estipulados. E aqui entra em ação a equipa de aprovisionamento e armazém. Em Pampilhosa da Serra, a gestão e distribuição das encomendas é assegurada por Sandra Almeida e Cláudia Carlota. As duas funcionárias são responsáveis por analisar orçamentos, rececionar encomendas, estimar consumos e distribuir os produtos pelos equipamentos. Num mês, podem passar pelas suas mãos centenas de caixas de luvas, pacotes de fraldas, peixe e outros frescos. A título de exemplo, Cláudia Carlota refere que chegam a encomendar 700 quilos de peixe numa semana ou 1200 pacotes de fraldas num mês.

Por estarem expostas ao exterior e contactarem com dezenas de fornecedores todos os meses (10 a 15 por área), são rigorosas no cumprimento das medidas de proteção e evitam contactos com colegas que prestam cuidados aos utentes. Até ao momento, não houve falhas no abastecimento de alimentos ou produtos de higiene, mas o mesmo não se pode dizer dos equipamentos de proteção individual: “há muita falha no fornecimento de EPI e quando há é a preços exorbitantes. É uma das principais dificuldades”.

Neste período de emergência sanitária, há outra área que assume especial relevância no funcionamento das instituições: a limpeza e desinfeção. Por isso, em Vila Verde (na foto) a Misericórdia decidiu homenagear os profissionais que assumem essa função, nas redes sociais, com o título “guerreiras e guerreiros da lavagem e desinfeção”. De segunda a domingo, os funcionários da lavandaria tratam centenas de fardas de funcionários da Misericórdia, mas também dos profissionais de saúde dos centros de saúde de Vila Verde e Vila de Prado, localidade vizinha, sem capacidade de resposta para o fazer, neste momento.

Nalgumas Misericórdias, o volume de roupa tratada (vestuário, atoalhados, lençóis etc) ascende a dezenas de toneladas por ano, mas sofreu um aumento substancial neste período. Em Coimbra, a média são 70 toneladas por ano, mas o coordenador geral prevê um aumento com as novas medidas de lavagem e desinfeção das fardas que determinam que cada funcionário tem no mínimo 3 fardas limpas por semana, lavadas entre 70 a 90 graus.

Fotografia: Misericórdia de Vila Verde

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas