Esperança é o sentimento que descreve o ambiente nas Misericórdias do distrito de Portalegre que receberam na primeira semana de janeiro

Esperança. Muita esperança. Este é o sentimento que melhor descreve o ambiente vivido nas Misericórdias do distrito de Portalegre que receberam na primeira semana de janeiro o tão esperado programa de vacinação contra a Covid-19.

Depois de vários meses de restrições, muitos sacrifícios e uma resiliência heroica, o ano de 2021 não podia ter começado da melhor forma para estas instituições que têm feito todos os possíveis para proteger aqueles que estão aos seus cuidados e que são mais vulneráveis.

As Santas Casas de Crato, Gavião, Alpalhão, Arez e Montalvão integraram o grupo das instituições consideradas prioritárias, por estarem inseridas nos 25 concelhos com risco extremo de infeção, e foram, por isso, as primeiras neste território a receber a vacinação para utentes e colaboradores.

O momento foi sem dúvida especial e vivido com muita expectativa, entusiasmo e a emoção de quem vê esta “vacina de esperança” como um alento para que o tão desejado reencontro com os seus familiares esteja cada vez mais próximo.

Na Santa Casa da Misericórdia do Crato a vacinação englobou o Lar de Grandes Dependentes e no Lar de Nossa Senhora da Conceição, envolvendo cerca de 130 pessoas, entre utentes e colaboradores, e de acordo com o provedor, Mário Cruz, “correu tudo muito bem” e “todos se mostraram entusiasmados com a vacina, porque havia esse anseio”, frisou.

Mário Cruz refere que a vacina “veio renovar a nossa esperança de que vamos conseguir vencer a luta contra este vírus” e, em particular, para os idosos representa “a esperança de que, brevemente, vão poder voltar a estar com os seus familiares, regressando também à normalidade do seu dia-a-dia”, pois “tem sido mesmo muito difícil lidar com a privação de contactos com a família”, constata o provedor.

A primeira utente da instituição a ser vacinada foi Felícia de Cunha e Sá Moutinho, de 101 anos, que, depois de receber a vacina e com a sua boa disposição, disse estar agora ainda mais preparada para combater o vírus e com esperança redobrada de celebrar os 102 anos já em março.

Na Santa Casa da Misericórdia de Gavião (na foto) foram vacinadas 211 pessoas nas três estruturas residenciais geridas pela instituição, sendo que os que estiveram infetados não foram vacinados, e segundo a diretora técnica, Inês Rodrigues, todo o processo decorreu com “muita recetividade”.

A responsável explica que sobretudo para os idosos foi um momento importante e foi "emocionante ver a sua alegria e a esperança que a vacina lhes trouxe de estarem cada vez mais perto de voltar a estar com as suas famílias".

Convicta de que este é o principal anseio de todos aqueles que sofreram bastante com as restrições a que foram sujeitos com a pandemia, Inês Rodrigues acredita que, embora ainda haja receios, “estamos todos com mais força e mais vontade de conseguir ultrapassar os tempos difíceis que vivemos nos últimos meses”.

Deolinda Maria foi a primeira utente da Misericórdia de Gavião a ser vacinada no Lar de Nossa Senhora das Necessidades. A idosa de 102 anos, que está ainda bastante lúcida, aceitou de imediato ser vacinada e a sua alegria por viver este momento foi contagiante e demonstrativa da esperança que todos sentiram na instituição.

“O dia em que os utentes e colaboradores da nossa Misericórdia receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19 ficará guardado na nossa memória como um momento histórico, vivido com alegria, esperança e a confiança de que foi o início do fim desta pandemia”. É desta forma que a diretora técnica da Misericórdia de Montalvão, Carina Afonso, descreve ao VM o primeiro dia de vacinação na instituição, realçando que os utentes e colaboradores “estavam muito ansiosos e, ao mesmo tempo, contentes e otimistas”.

Depois de vários meses a viver sempre com o medo dos efeitos da pandemia e “a trabalhar com grande esforço para evitar surtos, iniciar a vacinação ajuda-nos a acreditar que as coisas estão a melhorar e podem, realmente, ficar bem. Essa foi a esperança que todos sentimos”, refere Carina Afonso, acrescentando que “para os utentes o principal desejo é regressar à normalidade, poderem sair, não viver constantemente com o medo do vírus e sobretudo, esse sim é o seu grande anseio, voltar a abraçar e a estar com os familiares” porque “essa necessidade tem sido a mais difícil suportar”, assume.

Na Misericórdia de Montalvão foram vacinados 36 utentes e 28 colaboradores e a primeira a ser vacinada foi a utente mais idosa do lar, a D. Benedita, de 97 anos, que, segundo a diretora técnica, estava muito tranquila e convicta do que queria fazer e, ao mesmo tempo, entusiasmada por ser a primeira e ter mais uma história para contar.

Depois de passar por um período muito complicado com um surto de Covid-19 que infetou todos os utentes e vários colaboradores, fazendo também algumas vítimas, a vacina foi recebida na Santa Casa de Alpalhão com “ansiedade e algum nervosismo pelo medo do desconhecido”, assume a diretora técnica, Susana Trindade.

No entanto, e apesar dos receios, as 15 colaboradoras que foram vacinadas (só foi vacinado quem não testou positivo) demonstraram ter “a convicção de que, face à nossa realidade, a de trabalharmos em um lar de risco, é também um dever enquanto cidadãos sermos vacinados para protegermos os outros”, sublinha a diretora, reforçando que este início da vacinação representa, sobretudo, esperança e “dá-nos dá força e tranquilidade para continuarmos empenhadamente esta luta que ainda não terminou”.

Também na Santa Casa da Misericórdia de Arez, onde foram vacinadas 33 pessoas, entre utentes e colaboradores, o processo de vacinação foi um momento importante que “decorreu com muita tranquilidade”, como explica a provedora Maria José Mandeiro, que se mostra convicta de que a vacina “resulta numa redução de riscos” e “dá-nos mais esperança e proteção, porque temos vivido com muito medo”, constata, reconhecendo que o problema não está ainda resolvido.

À semelhança de todas as outras instituições, também em Arez os utentes anseiam por voltar a abraçar os seus familiares, pelo que não hesitaram em receber a vacina. Segundo a provedora houve o cuidado de, atempadamente, “explicar aos idosos, os que conseguem perceber, tudo o que sabíamos da vacinação, procurámos esclarecer dúvidas, o que acredito que ajudou a estivessem preparados e que o momento fosse vivido com o entusiasmo que merece”, realça.

Voz das Misericórdias, Patrícia Leitão