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- Vale de Cambra | Nova geração de utentes é mais exigente e desafiante
A sexta edição aconteceu no passado dia 14 de março, subordinada ao tema ‘Cultura e Inclusão – Ferramentas para uma Animação Transformadora’ e contou com a presença de mais de meia centena de animadores (82%) e diretores técnicos (18%) de diversas Misericórdias, bem como de várias instituições particulares de solidariedade social (IPSS).
Ana Margarida Almeida é animadora e foi a coordenadora do evento. Em declarações ao VM, referiu uma realidade curiosa e transversal ao universo das Misericórdias e IPSS. “Agora está a entrar uma geração de utentes que exige muito mais de nós e que nos dá muito mais desafios. Estes encontros são importantes, nãosó por termos uma partilha entre os colegas, mas porque tentamos abordar temas que nos vão ajudar no dia a dia, nos vão dar ferramentas para trabalharmos com este novo público”.
Os ‘novos’ utentes são pessoas (in)formadas, com gosto pelas artes e com conhecimento das novas tecnologias, mas também com demências em fases muito distintas que exigem intervenção particular e individualizada. Com realidades tão diferenciadas, Ana Margarida Almeida sublinha a importância das atividades de animação desenvolvidas pelas instituições. “Cada vez procuramos mais conhecimento, novas técnicas, porque os nossos utentes têm cada vez mais informação, já querem outro tipo de atividades. Temos utentes em lar que gostam muito de teatro, que gostam muito de atividades culturais, que exigem ter acesso à internet e alguns canais no quarto, como canais de cinema, portanto coisas que até então não se viam.
Por isso, continua a animadora, “tentámos incluir os nossos utentes na sociedade, queremos que eles se sintam incluídos, queremos que tenham acesso à cultura, às artes, até porque depois permite-lhes expressar alguns sentimentos que de outra forma não é possível”.
Num estímulo diferente da cultura e da informação, a animação tem um papel fundamental, também, na resposta às demências que surgem em diferentes etapas da vida de cada um e o encontro não deixou o tema passar em branco. “Cada vez mais trabalhamos com demências e tentamos também que o nosso encontro tenha sempre um lado em que falemos nelas, porque é um assunto muito presente. Há mais pessoas com demência e cada vez mais tipos de demência e tem sido desafiante”, reconhece a animadora.
Nesta edição, e com o apoio da Associação Alzheimer Portugal, foram abordadas algumas técnicas e ferramentas que podem ser usadas. A Santa Casa de Vale de Cambra, por exemplo, dispõe de uma sala de snoezelen (sala para estimulação sensorial e/ou diminuição de ansiedade e tensão), mas como é uma das poucas na região, o encontro abordou táticas que podem ser desenvolvidas por quem não dispõe deste equipamento.
A Associação Alzheimer Portugal, através dos seus dois oradores, apresentou ferramentas de terapia sensorial que podem ser desenvolvidas nas instituições. Como explica Ana Margarida Almeida, “estamos absorvidos com o imenso estímulo que temos no dia a dia e esquecemos os estímulos mais simples, do olfato, do paladar, do tato, do toque e esta terapia que nós fazemos na sala pode ser feita noutro ambiente qualquer. Ter a terapia sensorial é muito importante para nos lembrarmos que temos os estímulos primários que têm de ser trabalhados. Os utentes não são tocados muitas vezes, a não ser para vestir, calçar ou pentear e este toque por carinho, para fazer um mimo, para fazer uma massagem, é muito importante”.
António Pina Marques, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vale de Cambra, reconhece a importância da animação sociocultural nas instituições e atribui-lhe um papel cada vez mais relevante. “Estamos a falar de ambientes cada vez mais desafiantes para a animação, porque nos deparamos com situações cada vez mais crescentes e novas, como é a questão das demências”, afirma.
A adesão crescente de participantes nestes encontros justifica, segundo Pina Marques, o investimento feito em cada edição. “Trazemos profissionais com know-how mais recente sobre algumas situações que vivemos na nossa realidade. Poderem partilhar entre eles as experiências que têm, o sucesso que vão tendo, eventualmente o insucesso para não se repetirem nas outras instituições, é muito interessante”.
Ao mesmo tempo, o provedor salienta ser esta uma forma de homenagear o trabalho dos profissionais de animação sociocultural. “Tivemos uma profissional, nas primeiras cinco edições, que dinamizou estes encontros, e que partiu por um problema de cancro (Sofia Ventura) e aproveitamos também para lhe fazer uma homenagem. Mas, de facto, é muito importante que possamos dar oportunidade aos animadores socioculturais para recolherem mais conhecimento sobre a forma de tratar as situações mais difíceis, de estimular os nossos utentes. Temos várias respostas desde lar, centro de dia, centro de convívio, cuidados continuados, enfim, há várias situações em que o animador sociocultural é chamado e por isso este empenho e este investimento na sua valorização profissional é essencial”, conclui.
Voz das Misericórdias, Vera Campos