Misericórdia de Viana do Castelo promoveu uma exposição documental para contar a história do Recolhimento de S. Tiago

No âmbito das comemorações do dia internacional da mulher, foi inaugurada, no dia 06 de março, a exposição documental sobre o antigo Recolhimento de S. Tiago, nas instalações da Galeria de Exposições da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo.

Com uma visita ao passado, os assistentes puderam ver e conhecer a história do recolhimento que albergava as nobres senhoras daquela época, e estar em contacto com a documentação, perfeitamente conservada, que relata não só os estatutos do recolhimento, mas também alguns dos nomes das mulheres que fizeram parte desta época da história.

A escolha desta exposição para o mês de março tem um profundo significado. Conforme referiu a provedora da Misericórdia de Viana do Castelo, Luísa Novo Vaz, “a Santa Casa quis homenagear a intervenção das mulheres na sociedade com esta viagem ao passado, naquilo que constitui uma visita ao Recolhimento de S. Tiago, mediante documentação que espelha a história de todas as recolhidas e a realidade social da época e circunstâncias nas quais viveram”.

Um pouco de história. O Recolhimento de S. Tiago de Proteção da Misericórdia poderá ter tido origem ainda no século XIV. Na cultura da época, a preservação da honra e da virtude femininas eram uma preocupação social e várias foram as instituições que criaram ou apoiaram espaços de manutenção desses valores, nomeadamente as Misericórdias. Os recolhimentos eram assim lugares de proteção da mulher, assentes na clausura e em normas de conduta bem definidas pelos membros das instituições protetoras.

A Misericórdia de Viana do Castelo elegeu a preservação da honra feminina como uma das principais realizações das suas práticas de caridade. O Recolhimento de S. Tiago, destinado a mulheres nobres da vila que, afetadas por desqualificação económica poderiam correr o risco de resvalamento na escala social, colocando em perigo a reputação e prestígio que o estatuto de nascimento lhes conferia, foi um dos instrumentos usados pela Santa Casa para preservar a honra feminina. A partir de 1638, na sequência do testamento de Susana Brava, uma nobre viúva que privilegiou a Misericórdia, esta passou a protetora do Recolhimento, assumindo a sua administração plena.

No início do século XVIII, passou por uma nova fase de revitalização, em grande parte devido à influência de uma mulher que iria colocar os seus bens ao dispor da instituição. Chama-se Domingas de Passos, fora casada com o Mestre de Campo Miguel de Lascol e, ao enviuvar, decidiu entrar para S. Tiago.

Eram várias as condições impostas para a admissão no Recolhimento, sendo que a primeira era que as candidatas tivessem origem nobre, independentemente da situação económica em que se encontravam. Em meados do século XX o Recolhimento possuía 26 celas e albergava 13 senhoras. Muitos vianenses ainda têm memória do recolhimento em funcionamento e de ali se comprarem as ‘meias-luas’, doces produzidos pelas recolhidas.

Esta é a história que a Misericórdia de Viana do Castelo quis contar através desta exposição que, em situações normais, estaria patente ao público até ao dia 28 de março. Devido ao surto de Covid-19 o espaço esteve interdito aos visitantes, de acordo com as primeiras medidas para diminuir a velocidade de propagação do novo coronavírus em Portugal.

Para a Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, preservar e valorizar o seu património cultural é determinante para que este legado chegue às gerações vindouras. Atualmente a Misericórdia é responsável por duas estruturas residenciais para pessoas idosas, duas creches e jardins de infância e um serviço de apoio domiciliário.

Voz das Misericórdias, Vanessa Reitor