Para quem gosta de frutos secos, sem dúvida, que não há melhor iguaria que o bolo-rainha da pastelaria da Misericórdia de Vila Verde

Na terra que já é conhecida pelas muitas tradições do Minho, desde os bordados dos lenços dos namorados à gastronomia típica, quem passa pelo passeio próximo ao Hospital da Misericórdia de Vila Verde dificilmente se livra da tentação do “cheirinho” de pão quente acabado de sair do forno e depara-se com bolos e muitas outras doçarias na montra da padaria e pastelaria da instituição. Sendo custoso resistir, mais complicado é eleger o que se gostaria de provar primeiro.

Entre os sons típicos do moinho a triturar o café ou da máquina a aquecer o leite, conversamos com Bento Morais, provedor, que nos conta como tudo começou: “O objetivo inicial foi, num espaço que estava sem uso, conseguir criar empregos aqui no concelho. Na altura admitimos sete pessoas, em 2003. Hoje somos 13 colaboradores”.

No meio do movimento, uma mesa fica vaga e podemos sentar. Não tarda a trazerem duas chávenas de café para aquecer a conversa. “Cerca de 250 pessoas passam por aqui diariamente, de segunda a domingo, pelo que esta é uma valência da Misericórdia que é completamente autossuficiente e que tem como principal público funcionários e utentes da Misericórdia, o que significa que, apesar do sucesso, não fazemos concorrência aos demais estabelecimentos”.

Mas esta é uma época especial do ano e os contornos açucarados da conversa exigem que se atalhe e inquira pelo motivo que trouxe o VM a visitar a Misericórdia de Vila Verde: onde está o já afamado “bolo-rainha escangalhado”? Bento Morais sorri e confirma que este é o sucesso da quadra natalícia. “Este nosso bolo foge ao tradicional, é um bolo retangular, repleto de frutos secos, com um sabor especial” e que foi trazido por uma “aquisição” que chegou à padaria há cerca de quatro anos.

“Foi um jovem que veio da Escola Profissional daqui de Vila Verde, do curso de pastelaria, e tem feito muito sucesso com a sua inovação e criatividade”. É-nos confidenciado que entre os fãs da delícia do “craque” criador deste bolo-rainha estão Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas, o diretor deste jornal, Paulo Moreira, e toda a equipa da redação do VM, o que elevou substancialmente as expectativas gustativas do jornalista que vos escreve.

E onde encontrar este artista doceiro? O seu nome é Paulo Braga, de 27 anos, e está, obviamente, na cozinha, onde, por sorte, encontramos literalmente com a mão na massa a preparar justamente a iguaria mais cobiçada do momento. “Estava agora a aplicar [na massa espalmada sobre a mesa] o nosso creme caseiro, mas ainda vai levar noz, amêndoa, canela, caju, avelã e algum pinhão”. Mas e o segredo do sabor, seria possível revelar? “Bem, a dose de frutos secos é quase igual em todos, mas o nosso segredo é a massa, preparamos tudo de raiz, do ovo à farinha, o nosso creme e a canela, que dá o sabor especial”.

“Sabia que fazemos 70 quilos de doce húngaro todos os dias?”, pergunta Paulo, enquanto nos traz alguns dos biscoitos mesmo acabados de fazer, para o deleite do repórter. Confirmamos que é mesmo muito bom, mas não podemos perder o foco: tem a certeza de que já nos contou tudo acerca do bolo-rainha? “Bem, acrescentamos também licores e vinho do Porto e por cima ainda deitamos alguma geleia, que dá humidade, brilho e beleza ao bolo”.

Entre o corre-corre do pessoal no recinto, todos eles fardados impecavelmente de branco, fomos convidados a conferir as etapas de feitura do bolo: desde a grande batedeira onde se misturam os ingredientes iniciais, os demais itens armazenados e os fornos em plena atividade, de onde o “cheirinho” irresistível é a tentação perfeita mesmo para quem não é um autêntico guloso, quanto mais para o repórter, que não pode perder o foco.

Neste momento, quando a conversa já dura há algum tempo, notamos alguém a observar-nos. Quem nos vigia é Maria do Sameiro, de 44 anos e responsável do estabelecimento, que nos convida a voltar para a mesa enquanto fatia um bolo-rainha para, finalmente, degustarmos aquela maravilha. “Normalmente começamos a fazer uns dois meses antes das festas para satisfazer a procura, mas sempre é possível fazer sob encomenda ao longo do ano. Às vezes vem gente de fora de propósito para buscar o bolo”, conta-nos Sameiro.

É chegado o momento mais aguardado. Hummmm…!  Infelizmente, não vai ser possível relatar em palavras a delícia que foi possível saborear. Para quem gosta do sabor dos frutos secos e uma massa fofinha e molhada, sem dúvida, que não há igual!

Se o leitor foi capaz de seguir, com água na boca de certeza, a narrativa até aqui a este finalzinho, só nos resta desejar a todos um Feliz Natal (e perguntar do que está à espera para ir provar ou encomendar o bolo-rainha, que é, sem sombra de dúvidas, a obra-prima gastronómica da estação).

Voz das Misericórdias, Alexandre Rocha