A inspiração para esta iniciativa surgiu no seio da Academia Sénior de Arronches, na disciplina de Património, na qual os alunos dedicam-se ao estudo e à revisitação das ricas tradições da região. Segundo Maria João Fernandes, vereadora do município, o ímpeto para a recriação do cortejo surgiu há cerca de três anos, no seguimento de “uma exposição de fotografia sobre os antigos cortejos da Santa Casa, que decorriam em agosto". Estes cortejos, recorda a autarca, tinham “um caráter profundamente solidário, uma vez que angariava bens para doar à Santa Casa".
Foi a partir destas memórias que se começou a delinear o projeto de resgatar o cortejo de oferendas e o objetivo era claro: permitir que as novas gerações, que nunca tinham presenciado este evento, pudessem conhecê-lo, enquanto os mais velhos teriam a oportunidade de recordar e reviver as suas próprias memórias.
O cortejo de oferendas voltou assim a percorrer as ruas da vila, transformando-as num palco de representação histórica. A comunidade de Arronches vestiu-se a rigor com trajes que evocavam as memórias dos homens e mulheres do campo de antigamente e nem as carroças com os burros atrelados faltaram, conferindo autenticidade ao evento. O cortejo, após percorrer as ruas de Arronches, culminou no edifício da Santa Casa da Misericórdia. Ali, uma comitiva liderada pela provedora Deolinda Romão aguardava a chegada das oferendas. Foram recebidos bens alimentares doados pelos participantes e também algumas ofertas em dinheiro, durante o percurso, materializando o espírito de dádiva que sempre esteve associado a este cortejo. Em conversa com o VM, Deolinda Romão sublinhou a importância histórica e simbólica do cortejo de oferendas para a Santa Casa e enfatizou ainda o valor educativo e intergeracional da recriação: "Trazê-lo aos dias de hoje, especialmente para as crianças que nunca viveram ou compreenderam o significado deste ritual, foi uma forma de dar vida ao passado e experienciar o cortejo de forma diferente, mais próxima". Além disso, frisou que esta iniciativa "permitiu também um contacto entre gerações, ligando o passado ao presente".
A provedora fez questão de referir que, embora o conceito de caridade de outros tempos tenha evoluído para a solidariedade social de hoje, a essência de apoio à comunidade permanece e a Santa Casa, sendo uma organização com 500 anos, exige "um olho diferente sobre aquilo que é a solidariedade”.
Voz das Misericórdias, Patrícia Leitão
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