No Dia Internacional da Mulher, o museu da Misericórdia de Coimbra inaugurou uma exposição documental sobre quatro figuras femininas incontornáveis, que se destacaram pelo seu percurso e defesa dos direitos civis e políticos das mulheres. A iniciativa, promovida pelo Plano Nacional das Artes, conta ainda com a participação do Museu Nacional de Machado de Castro, o Museu Municipal e o Centro de Arte Contemporânea de Coimbra.

Carolina Michäelis, Ana de Castro Osório, Domitila de Carvalho e Olga de Morais Sarmento são as mulheres em destaque na exposição que reúne documentos e correspondência pessoal proveniente do fundo Mário Brandão, onde se inclui o legado de Mendes dos Remédios, Ministro da Instrução Pública. “É uma sorte termos este material inédito. Temos cartas relacionadas com o trabalho delas ou com a problemática feminina. São testemunhos das desigualdades que persistiam na altura. Elas já falavam disto há cem anos”, observa o diretor do museu, Raul Mendes. 

Num tempo em que, salvo raras exceções, só os homens votavam, estudavam e trabalhavam, estas mulheres defendem que a educação e o emprego são dois pilares essenciais para o progresso das mulheres. A título de exemplo, Raul Mendes recorda uma das cartas em exposição, onde se lê que os “homens que estudam podem ser um bom exemplo para as mulheres e irmãs perceberem que uma pessoa que estuda progride”.  

Noutra epístola, Domitila de Carvalho, a primeira mulher a frequentar uma universidade portuguesa, manifesta a sua indignação perante as desigualdades salariais entre os professores dos liceus masculinos e femininos, homens e mulheres a exercer a mesma função. 

Dois dias depois da inauguração, a exposição já somava mais de 900 alunos inscritos e suscitava o interesse e diálogo com o público jovem. “Mais uma vez, os museus a cumprir a sua função pedagógica, a suscitar a reflexão e produzir conhecimento. Os museus não existem apenas para ter objetos dentro de vitrinas, devem ser vividos”.

A exposição inseriu-se num evento conjunto que propôs um circuito narrativo pelos quatro espaços culturais da cidade, parceiros da iniciativa, até ao final de março. 

Fazendo uso das plataformas digitais, a instituição partilhou ainda ao longo do mês a “história de cinco mulheres fantásticas”, onde se inclui, além de Carolina Michäelis, Ana de Castro Osório, Domitila de Carvalho e Olga de Morais Sarmento, a rainha D. Leonor, fundadora das Misericórdias. 

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas