No ano em que celebra 100 anos, a Misericórdia do Divino Espírito Santo da Maia reuniu mais de 100 crianças para uma romaria

A Santa Casa da Misericórdia do Divino Espírito Santo da Maia contempla as freguesias de Porto Formoso, São Brás, Maia, Fenais da Ajuda, Lomba da Maia e São Pedro. É nestas freguesias que habitam as 110 crianças que participaram na X Romaria Infantojuvenil, o primeiro momento que celebra os 100 anos da Misericórdia da Maia e que aconteceu a 2 de abril. Para além das crianças e jovens, também os familiares participaram na caminhada.

Uma iniciativa que, de acordo com Paulo Bulhões, principal organizador da romaria, tem por objetivo “transmitir a tradição e os valores” que são praticados pelos habitantes da maior ilha açoriana desde há largos séculos.

O funcionário da Santa Casa conta-nos que a I Romaria Infantojuvenil aconteceu apenas na Maia, freguesia onde se percorreram algumas ruas com apenas 20 crianças. “Ano após ano” foi crescendo porque “as pessoas começaram a gostar e a valorizar”, o que fez com que com o passar do tempo e evolução da iniciativa, se passasse a “convidar as escolas todas, bem como os CATL desta zona”. Se no início eram apenas algumas ruas da freguesia da Maia percorridas, nesta 10ª edição percorreram-se ruas por três freguesias: a romaria iniciou-se em Porto Formoso, passou por São Brás (onde os pequenos romeiros entraram na igreja para rezar) e chegou ao destino final, a igreja Matriz da Maia.

Nem todas as crianças começaram o percurso ao mesmo tempo, conta-nos. Algumas foram entrando no percurso conforme a sua disponibilidade, pois devido à sua tenra idade não aguentariam a jornada de mais de três horas, como foi o caso de Diogo Pacheco que, com apenas quatro anos, quis fazer parte da romaria. A mãe, Marisa Branco, conta que na semana antes, já o Diogo falava na romaria, pedindo para lhe vestirem o traje, o que comprova o entusiasmo que as crianças têm em fazer parte deste momento.

Um dos momentos mais lembrado pelas crianças foi o lanche que se realizou na Escola Básica Integrada da Maia, a aproximação à chamada “reunião de famílias”, o tradicional encontro em que a família do romeiro se junta a ele durante a sua semana em peregrinação.

Laudalino Rodrigues, provedor da Santa Casa da Maia, acredita que esta iniciativa faz parte do “caminho correto” do percurso da Misericórdia, já que é capaz de “envolver a comunidade [não só as crianças, mas também os pais e os nossos funcionários]”. O provedor enumera ainda aquilo que marca as principais mudanças em relação a edições anteriores: “as principais diferenças são a nível da organização e empenho das pessoas. Cada vez mais vemos que os pais estão interessados em fazer parte desta atividade e claro que a experiência também nos vai tornando melhor [em termos de organização]”.

Ananias Bento, da Lomba da Maia, participa nesta romaria pela quinta vez, tendo começado com seis anos. O agora jovem afirma que o que mais gosta na romaria é o “convívio” que tem com os seus colegas. Em todas as romarias faz amigos novos e, quando crescer, quer continuar a fazer parte da tradição secular micaelense. Fátima Bento, mãe de Ananias, apoia e incentiva a participação do filho e afirma ser sempre “emocionante” vê-lo vestido de romeiro.

Ainda que a tradição seja maioritariamente praticada pelo sexo masculino, também há meninas que querem fazer parte da romaria. É o caso de Leonor Araújo, de Porto Formoso, que, por ter amigos que participam na romaria, também quis ingressar. Não foi um percurso fácil, afirma a menina, mas com o apoio dos colegas e do pai, conseguiu terminar o caminho. 

Hélder Araújo explica os motivos que o levaram também a participar na iniciativa: “o principal motivo é transmitir os valores culturais que temos na ilha. Quando trouxe a Leonor, trouxe com o intuito de transmitir esses valores e tradições”. Ainda que esta seja uma “pequena caminhada” para os adultos, mas uma “grande caminhada” para os mais pequenos, “sabe muito bem” por ser ao lado dos jovens. De acordo com Hélder, esta é uma iniciativa “muito importante” para a sociedade, que merece ser valorizada pela comunidade.

Luís Pacheco é um jovem de 13 anos que faz a Romaria Infantojuvenil desde os seis e já considera a sua participação uma “tradição” que continuará a cumprir enquanto “nada me impedir”. O jovem recorda que no primeiro ano participou por iniciativa da família, mas depois “tomei gosto e continuei”. Luís contou ao VM que pretende participar nas romarias quaresmais (que duram uma semana) quando for mais velho. Ver os colegas mais pequenos fá-lo lembrar da sua primeira romaria e, afirma, “quero que tenham o mesmo gosto que eu tenho”.

A X Romaria Infantojuvenil terminou com uma missa na igreja Matriz da Maia, onde as crianças tiveram oportunidade de participar e animá-la. O padre Rúben Sousa, que celebra esta missa pelo segundo ano, afirma a importância desta iniciativa, sabendo que é também necessário explicar e transmitir as razões pelas quais existe esta tradição. Sendo que a Misericórdia tem “raízes e sementes cristãs”, esta iniciativa é “de louvar e para continuar”, para que se possa continuar a transmitir as tradições micaelenses aos mais jovens.

Paulo Bulhões lembra que esta 10ª edição acontece nas celebrações do 100.º aniversário desta Santa Casa, afirmando que “estarmos a celebrar os 10 anos da romaria no centenário da Misericórdia é motivo de festa e muita alegria para todos nós”.

Voz das Misericórdias, Linda Luz