O acervo histórico do museu etnográfico da Santa Casa da Misericórdia de Nossa Senhora da Assunção, de Messejana, no distrito de Beja, reunido ao longo de anos por vários voluntários e com documentos de vários séculos, vai entrar na “era digital”, para poder estar disponível para consulta em todo o mundo.

A instituição assinou, a 4 de agosto, dois protocolos para “salvaguardar e valorizar” o acervo documental existente no seu museu etnográfico, no âmbito do projeto ‘MessejanaDoc’, que junta a Misericórdia de Nossa Senhora da Assunção à Universidade de Évora (UÉ) – através do Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS) –, à ‘Alentejo, Terras e Gentes’ – Associação de Defesa e Promoção Cultural do Alentejo e à junta de freguesia local.

“Estes protocolos visam, sobretudo, olhar para a documentação histórica aqui existente, digitalizá-la e dar seguimento ao inventário feito já há alguns anos”, explicou Florêncio Cacete, presidente da associação ‘Alentejo, Terras e Gentes’, ao VM.

Segundo este responsável, também ligado ao CIDEHUS, “nem todas as terras têm um acervo destes como tem Messejana”. “Estou ligado a outros projetos de investigação e, efetivamente, a coleção que aqui está é de uma qualidade e de uma dimensão que é muito difícil encontrar noutros lugares”, frisou.

Por isso, continuou Florêncio Cacete, o “objetivo maior” dos protocolos agora formalizados “é salvar a documentação” existente no museu etnográfico de Messejana e iniciar o respetivo processo de “transição digital” do espaço, cujas instalações se encontram degradadas. Nesse sentido, ao longo dos próximos meses irão estar nesta vila histórica do concelho de Aljustrel investigadores e alunos da UÉ, para procederem “à digitalização” da documentação, assim como ao seu enquadramento histórico e inventariação.

“Penso que daqui a um ano já teremos alguns milhares de documentos partilhados online”, indicou este investigador, explicando que a informação ficará depois disponível através do projeto ‘Fundis’ e no próprio repositório da UÉ.

Ou seja, disse, “quem quiser estudar a história da Messejana, da Câmara Municipal da Messejana ou de algumas práticas culturais existentes aqui, conseguirá a partir de qualquer ponto do globo aceder através dessa plataforma e nunca mais esta informação se irá perder”.

Momento único

Para o provedor da Misericórdia de Nossa Senhora da Assunção, Henrique Petronilho, os protocolos assinados pela instituição, no âmbito do projeto ‘MessejanaDoc’, “são importantíssimos”.

“Esta é uma forma de preservar o que aqui está, porque a situação do edifício tem tendência a degradar-se e, pelo menos, esta documentação fica salvaguardada e digitalizada”, disse o dirigente alentejano.

Já a reitora da UÉ, Hermínia Vilar, frisou que os protocolos assinados em Messejana se enquadram no trabalho da instituição de ensino superior para “apoiar e enquadrar, tanto quanto possível, o esforço de preservação” do património da região “nas suas mais diversas vertentes”.

“Procuramos ser uma universidade para todo o Alentejo e um dos objetivos é estar sempre presente, tanto nas localidades maiores como nas mais pequenas, porque todas elas têm esse património que temos de procurar manter e preservar”, acrescentou.

Também presente na cerimónia, o responsável pelo Departamento de Património Cultural e Centro de Formação Profissional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Mariano Cabaço, considerou que os protocolos assinados em Messejana foram “um ato ímpar no universo das Misericórdias”.

“É este caminho que privilegiamos”, acrescentou este responsável, aproveitando a ocasião para anunciar que, a partir de setembro, a UMP pretende avançar com a inventariação do património móvel da Misericórdia de Nossa Senhora da Assunção, à semelhança do que já sucede em todas as Misericórdias do Alentejo (distritos de Beja, Évora e Portalegre). “Para a intervenção no edifício e musealizar todo o espólio [existente], a base é sabermos o que temos e a diversidade do espólio que aqui encontramos, que tem de ser reorganizado”, justificou. A Misericórdia de Messejana foi criada em 1988 e hoje apoia cerca de 70 pessoas.

Voz das Misericórdias, Carlos Pinto