Fomos até Ponte de Lima, no norte do país, e ficámos maravilhados com a riqueza existente na Santa Casa da Misericórdia daquela terra. Todos os edifícios que visitámos contam uma história que nos faz compreender a importância do património cultural destas instituições para as comunidades onde estão inseridas.

Num percurso a pé conhecemos grande parte do património cultural, histórico e de arte sacra que a Misericórdia limiana possui. Desde 2008, após assinatura do protocolo entre a União das Misericórdias Portuguesas e o Ministério da Cultura, a instituição tem tido o cuidado de recuperar e preservar o seu património móvel, imóvel e arquivístico.

Um grande número de peças de arte sacra, pinturas e até partituras musicais, como as do músico Jerónimo Xavier Varella, estão a ser restauradas e organizadas. Uma das que mais chama a atenção, pela sua estonteante beleza, é uma pintura a óleo que se encontra afixada no Salão Nobre. Segundo Tânia Teixeira Lopes, diretora da Conserv’Arte, empresa parceira da Santa Casa nesta área, “a tela representa a Santa Madalena a chorar. É uma pintura setecentista, de escola barroca italiana”, disse a especialista, dando conta de que foi a primeira obra que terá restaurado. Quando fala, Tânia deixa transparecer não só o prazer que lhe produz o restauro de peças de semelhante valor, mas também o orgulho que sente na execução de todos os projetos que lhe confiam.

Na Igreja da Nossa Senhora da Penha de França também estão a decorrer obras de restauro, especificamente no retábulo do altar mor e nas esculturas que nele se inserem. Esta capela tem uma curiosa particularidade: foi construída pela Misericórdia de Ponte de Lima, no século XVII, em frente à cadeia para que os presos pudessem assistir aos atos religiosos.

Continuando o nosso roteiro e muito perto desta capela, encontrámos a Igreja da Misericórdia. No seu pórtico estão duas figuras quinhentistas e únicas no país: o mamposteiro e o peregrino. As esculturas, de que não se conhecem exemplares afins, assinalam duas das obras de misericórdia que cabia às Santas Casas cumprir: resgatar os cativos e dar pousada aos peregrinos, esta última de grande importância para uma vila situada num dos caminhos de Santiago.

É nesta igreja que podemos encontrar, no retábulo principal, representações de Nossa Senhora da Misericórdia em tela e madeira. Naquele edifício, também a sacristia está recheada de história e património com as figuras em madeira.

A visita não poderia ter ficado concluída sem termos acesso aquilo que de mais peculiar e importante tem a Misericórdia de Ponte de Lima: um dos nove exemplares do Compromisso da Misericórdia, do ano de 1530, e onde se pode ler, na última página, o alvará assinado por D. João III para a fundação da Misericórdia de Ponte Lima, no dia 2 de agosto do ano de 1530.

De igual forma encontram-se preservados o Livro das Cartas de Índia, do século XVII, e a “Burra” da Misericórdia, arca utilizada em tempos para guardar correspondência, também ela do século XVII. Podíamos continuar a descrever o espólio desta Santa Casa, mas seria impossível condensá-lo em palavras.

Para o provedor da Misericórdia de Ponte de Lima, que nos acompanhou ao longo de toda esta visita, trata-se de "um património muito rico que fala da nossa história. Por isso queremos muito restaurar, organizar e preservar todo este material porque tem um valor incalculável". Por isso, concluiu Alípio Matos, uma das principais preocupações da atual Mesa Administrativa é a preservação do património cultural. Voz das Misericórdias, Vanessa Reitor