Museu da Misericórdia do Porto organizou uma sessão sobre a iconografia representada em retratos dos benfeitores da instituição

Quando ouvimos que uma imagem vale mais do que mil palavras, o que devemos imaginar perante uma galeria de retratos? Imagens de homens e mulheres que, em determinada época, partilharam o que era seu com outras pessoas. O seu trabalho, o seu património, o seu tempo, os seus valores materiais e imateriais. Por tudo isto importa preservar e recordar. No universo das Santas Casas são várias as instituições que não esquecem os seus beneméritos e a Misericórdia do Porto não é exceção. 

Percorrer a galeria dos benfeitores do MMIPO (Museu da Misericórdia do Porto) é atravessar cinco séculos de história. Ao longo dos mais de 500 anos de existência, a instituição foi atraindo legados de inúmeros benfeitores que, em muitos casos, mereciam um retrato como gesto de agradecimento público.

Francisco Ribeiro da Silva, mesário do Culto e da Cultura, recorda-nos, por exemplo, o Conde de Samodães, primeiro a idealizar o museu da Misericórdia. Provedor durante sucessivos mandatos, a Francisco de Azeredo Teixeira de Aguilar é atribuída a saúde financeira da instituição e também a tomada de consciência da vocação unitária e corporativa dos diversos estabelecimentos da Santa Casa.

“O Conde de Samodães, quando pensou no museu, tinha uma prática interessante. Uma ou duas vezes por ano, a galeria era revestida a retratos como forma de estímulo para quem tinha possibilidades”, referiu o mesário.

Atualmente fazem parte do espólio da Santa Casa do Porto 430 retratos e apenas uma pequena parte está exposta. Os restantes encontram-se em fase de preservação, restauro e identificação. A Misericórdia tem, inclusive, atribuídas bolsas a alunos da Faculdade do Porto e de outras instituições para esse efeito. 

Em conversa com o VM, o mesário Francisco Ribeiro da Silva sublinha ainda que as galerias representam uma faceta importante da identidade portuguesa que, destacou, “deve ser mantida”.

A forma como os benfeitores se apresentam nos retratos a óleo da Misericórdia do Porto diz muito sobre o modo como estes estavam empenhados em servir o próximo. Tendo por base a iconografia representada em alguns dos retratos dos benfeitores da Misericórdia do Porto, Paulo Jorge Estrela, fundador da Academia Falerística de Portugal, orientou no passado dia 1 de dezembro uma sessão intitulada “Condecorações nos retratos dos Benfeitores: o quê e porquê”. Na presença de vários interessados ajudou à identificação das insígnias representadas em alguns dos retratos e elucidou o contexto em que as mesmas foram concedidas.

Em declarações ao VM, Paulo Jorge Estrela enalteceu a coleção de retratos da Misericórdia portuense. “Sem dúvida que é uma grande coleção de retratos e aquilo a que temos acesso é apenas a ponta do iceberg. A coleção é enorme e há ainda grandes tesouros que estão a ser processados”. 

Para o colecionador não há dúvidas de que no futuro haverá “oportunidade de falar de forma mais concreta sobre a riqueza deste grande património. São processos complexos, interdisciplinares, que implicam recuperação e restauro, identificação de múltiplas áreas”, explica. Para o académico a obra é “meritória e merece todo o eco que lhe pudermos dar para que continue”, conclui.

O trabalho desenvolvido no âmbito do MMIPO (Museu e Igreja da Misericórdia do Porto) valeu à instituição a nomeação para o EMYA 2019 - Prémio de Museu Europeu do Ano, sendo o único museu português representado nesta lista. Este prémio, o mais antigo e prestigiado na Europa na área museológica, será atribuído ao museu que se apresente mais atrativo e registe os maiores índices de satisfação, combinando uma atmosfera única, marcada por uma apresentação inovadora e criativa em conjugação com uma responsabilidade social. 

Voz das Misericórdias, Vera Campos