Algumas das peças mais importantes de arte sacra de Proença-a-Velha podem ser vistas numa exposição patente nas instalações da Misericórdia. O espaço foi alvo de algumas obras de adaptação e abriu portas em agosto com duas exposições: uma permanente e outra temporária. Entre outros, um dos objetivos é celebrar os 800 anos de foral da localidade.

As comemorações foram o mote para concretizar um sonho de há muito e que vem dar forma a um protocolo estabelecido em 2001 entre a paróquia e Santa Casa. “A paróquia cedeu, à guarda da Misericórdia, uma série de dez peças de arte sacra, por questões de segurança e também para valorização do património, porque a ideia inicialmente era criar um museu de arte sacra, mas chegámos à conclusão que o núcleo era o mais adequado e que este era o momento ideal para avançar para o projeto”. A afirmação é do pároco da freguesia, Martinho Mendonça, que é também quem está a presidir à comissão administrativa, por nomeação do bispo diocesano, até que surja uma lista para os órgãos sociais da Misericórdia.

A Santa Casa de Proença-a-Velha, apesar de ser uma das mais antigas do país, não tem atualmente funções sociais, apenas uma dimensão cultual e cultural. “Na parte do culto, a Misericórdia é que organiza as celebrações da Semana Santa, em colaboração com a paróquia, depois tem também um espaço para os velórios e missa de corpo presente. Na dimensão cultural tem-se procurado valorizar neste ano das comemorações dos 800 anos do foral porque toda a parte cultural será feita na instituição, concertos, colóquios, e agora este núcleo.”

Inaugurado em agosto último, depois de umas obras de adaptação realizadas pela junta de freguesia de Proença-a-Velha no primeiro andar das instalações da Misericórdia, o núcleo guarda peças valiosas do ponto de vista histórico e patrimonial, onde se destaca o calvário gótico, do século XIII. “É uma peça de arte sacra que é o ex-líbris não só de Proença, mas de todo o concelho de Idanha a Nova, há outras como uma tela da Anunciação do século XVI, uma virgem sentada em madeira, do século XIV, ou um Santo António do século XV.” 

Na segunda sala encontram-se outras peças de arte sacra datadas dos séculos XVII e XVIII com destaque para a imagem de mártir S. Sebastião, que foi restaurado pelo Instituto José Figueiredo, numa colaboração com a Direção Geral do Património e Museu Nacional de Arte Antiga.

A particularidade da peça passa por ter sido restaurada pela metade. De um lado mostra o mártir original e a restauração que deve ser feita e a outra metade mostra um “pseudo restauro” que, há uns anos, transformou o santo num boneco de cera. “O que pretendemos é, com um intuito pedagógico, mostrar às pessoas que este património valioso deve ser restaurado por técnicos credenciados”. 

Um Ecco Homo e um Senhor dos Passos, que ainda saem na procissão da Semana Santa, um S. Domingos e um Santo António são outras das peças que se encontram na sala de exposições temporárias que tem uma janela com vistas para a igreja da Misericórdia. “Desta janela é possível, com uma iluminação adequada que pusemos, ver o retábulo bem conservado e pinturas, todas alusivas a cenas da vida de Nossa Senhora, que foram alvo de um restauro pelo Instituto José Figueiredo em 1983”, refere o pároco. 

A igreja acaba por ser um “bónus” para quem visita a exposição do núcleo museológico de Proença-a-Velha que teve Joaquim Caetano, do Museu Nacional de Arte Antiga, como curador.

A exposição temporária vai manter-se ali até abril de 2019, quando terminarem as comemorações dos 800 anos de foral de Proença-a-Velha. A história de oito séculos da localidade e de cinco séculos da Misericórdia será o tema da próxima mostra. “Estamos a pensar mostrar a história do que foi este edifício, que começou por ser hospital, foi escola primária, centro de saúde e agora núcleo museológico.”
O núcleo está aberto de segunda a sexta-feira, das 10h às 13h e das 14h às 17h, “procuramos que esteja aberta também aos fins de semana, pelo menos até finais de setembro, depois vamos reajustar o horário no inverno.” 

Na cerimónia de inauguração, o bispo da diocese de Castelo Branco, D. António Dias, realçou a importância da conjugação de esforços e vontades para dar corpo a um espaço onde a religiosidade de Proença-a-Velha ganha expressão e a dignidade que merece.

Voz das Misericórdias, Paula Brito