A procissão dos Passos em Pernes foi presidida pelo Núncio Apostólico em Portugal. Na sua homilia, D. Passigato convidou a comunidade a “edificar a nossa casa comum sobre os alicerces dos autênticos valores humanos e cristãos”

Os momentos evocativos da morte e ressurreição de Jesus na Igreja Católica inspiram, de norte a sul de Portugal, um conjunto de celebrações ancestrais, Vias-Sacras e autos da Paixão, procissões. São manifestações que arrastam multidões.

A vila de Pernes, no concelho de Santarém, não é exceção. No domingo, 24 de março, voltou a acolher a tradicional Procissão do Senhor Jesus dos Passos. Este ano, e pela primeira vez na história das Misericórdias, a celebração religiosa foi presidida pelo Núncio Apostólico em Portugal. Na sua homilia proferida na eucaristia solene, na Igreja Matriz da vila, o arcebispo italiano D. Rino Passigato sustentou que, atualmente, o cristão é, na Igreja e com a Igreja, “um missionário de Cristo enviado ao mundo”. 

“Esta é a missão inadiável de cada comunidade eclesial: receber de Deus e oferecer ao mundo Cristo ressuscitado, para que todas as situações de definhamento e morte se transformem, pelo espírito, em ocasiões de crescimento e vida”, disse o representante diplomático do Papa em Portugal. 

“Somos convidados a edificar a nossa casa comum sobre os alicerces dos autênticos valores humanos e cristãos, devolvendo a primazia a Deus, fonte de toda a dignidade humana e da verdadeira fraternidade entre as pessoas, os povos e as nações”, declarou, prevenindo: “a estrada, que o desafio nos aponta, é longa e muito absorvente, mas não temamos percorrê-la”.

Nesse sentido, D. Rino Passigato deixou um desafio: “Tornemo-nos também nós, por graça e impulso divinos, sinais visíveis de Cristo misericordioso, realmente vivo e presente no meio do Seu povo”. 

No final da homilia, o Núncio sublinhou ainda que Deus “promete a paz” e oferece-a como dom a quem for “capaz de a receber”.

Depois da celebração Eucarística, seguiu-se a procissão do Senhor Jesus dos Passos que percorreu o itinerário entre a Igreja Matriz e a Igreja da Misericórdia, por entre ruas engalanadas e cobertas de alecrim.

À semelhança do que vem acontecendo, ao longo de 395 anos, as ruas da vila de Pernes são ornamentadas para receber a procissão, momento importante do calendário religioso e cultural da Freguesia de Pernes que, para além de reunir os pernenses, atrai muitos visitantes, de perto e de longe, que se concentram ao longo de todo o percurso. 

No final da cerimónia, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pernes, Manuel Maia Frazão, entregou a D. Rino Passigato uma missiva dirigida ao Papa Francisco pedindo a bênção do Santo Padre para a instituição, “para que sirva de inspiração para outras iniciativas de vontade de fazer o bem”.

“O sucesso desta procissão reside no facto de, ano após ano, nos elevarmos acima das nossas circunstâncias, com dedicação e paixão pelo que fazemos, não deixando que se perca o espírito e a alma desta terra, pois esta manifestação de fé, faz parte das raízes, da tradição, do património e da cultura do povo pernense”, declarou ainda Maia Frazão.

À margem da cerimónia religiosa, e numa curta declaração ao Voz das Misericórdias, o Núncio Apostólico em Portugal confessou-se “comovido” com a ampla participação popular nesta manifestação religiosa com “raízes seculares”.
“Este ato religioso é um exercício espiritual único que reúne a população numa demonstração e partilha de Fé, vida interior e vida de oração. Os próprios atos externos, como a Procissão, mostram a transcendência da vida humana. São representação do mundo invisível da Fé”, concluiu.

A Procissão do Senhor Jesus dos Passos em Pernes remonta ao ano de 1624 e que faz parte do imaginário coletivo das gentes da região, sendo uma referência da identidade cultural e do património da freguesia de Pernes.

Já antes, no sábado à noite, tinha acontecido a Procissão dos Penitentes, com a imagem do Senhor dos Passos recolhida, a sair da Igreja da Misericórdia para a Igreja Matriz.

No domingo, deu-se então a saída da Procissão da Senhora das Dores, da Igreja da Misericórdia para a Igreja Matriz, onde as duas imagens se encontram, com a celebração da missa, seguindo-se a grande Procissão dos Passos, que percorre as principais ruas da vila. 

Em Pernes, o dia é de festa e de reencontro, uma vez que a vila recebe muitos visitantes de toda a região e os naturais que regressam à terra para cumprir a tradição.

Voz das Misericórdias, Filipe Mendes