Dois anos após o início da pandemia de Covid-19, que condicionou as celebrações em 2020 e 2021, o tríduo pascal levou centenas de pessoas às ruas, em todo o país, numa manifestação de fé, tradição e cultura. Em 2022, as celebrações regressaram sem restrições de participação, mas com “a prudência” recomendada pelo Vaticano, conforme nota enviada às Conferências Episcopais, “evitando gestos e comportamentos que possam envolver riscos”.

Numa mensagem dirigida aos dirigentes, trabalhadores, utentes e voluntários, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) lembrou a importância deste “tempo maior da paixão, morte e ressurreição de Cristo” que permite às Misericórdias “renovar as suas promessas, recuperando ânimo e forças para a sua ação quotidiana”.

Na atual conjuntura social e política, em que o “sofrimento está tão presente”, Manuel de Lemos considerou ainda mais essencial este “intenso exercício espiritual” que permite renovar o fôlego para ajudar os outros e contribuir, desta forma, para uma “sociedade mais justa e humanizada”.  “Tal como numa Via Sacra que conduz, por via da morte à ressurreição, também o trabalho das Misericórdias, apesar de todas as convulsões, consegue sair vitorioso quando, em cada momento, ajudamos um doente, um idoso, um refugiado”, escreveu.

Para o responsável pelo Gabinete do Património Cultural, Mariano Cabaço, este “apelo a uma maior espiritualidade”, além de concretizar uma obrigação definida no estatuto das irmandades, é uma manifestação pública da fé e um “testemunho do sofrimento e entrega a Cristo”. Por outro lado, tem uma “enorme carga de tradições e cultura” que é preservada e transmitida entre gerações.

Depois das restrições da pandemia, o regresso das celebrações da Semana Santa foi acolhido com enorme expetativa pelos fiéis e turistas de todo o país, que se deslocaram para acompanhar este acontecimento único no calendário religioso. “As celebrações movimentam centenas de pessoas e ao ser anunciado o retomar registou-se um grande dinamismo, numa ótica de turismo e de vivências da fé. Houve uma vontade natural de retomar e as Misericórdias estão de parabéns pela organização das cerimónias, tão importantes para a instituição e para a comunidade onde está inserida”, observou o responsável.

Dentro dos equipamentos, o regresso da vivência pascal fez-se por via da liturgia, música, gastronomia e momentos de aproximação às tradições locais. Nas redes sociais, foram várias as Misericórdias que partilharam registos deste período, que ficou marcado pela reflexão e renovação de afetos, em refeições simbólicas, eucaristias pascais, bênção dos ramos, distribuição de amêndoas, confeção de folares e outros exemplares da doçaria tradicional, como os biscoitos escaldados de Castelo de Vide.

Mariano Cabaço louva esta preocupação em levar as celebrações aos lares, através da liturgia e da gastronomia, que permite restituir uma “normalidade” que já muitos consideravam perdida. “Para as pessoas das comunidades, nas cidades, vilas e aldeias, a Páscoa é tanto um momento de aproximação à liturgia como uma festa da família e dos afetos. Por isso é de assinalar este cuidado. Algumas pessoas têm rituais que as acompanharam toda a vida”.

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas