5ª edição do seminário “Novas Abordagens no Cuidar” foi organizada pela Santa Casa de Mirandela no âmbito dos seus 500 anos

Os cuidados de saúde são uma preocupação premente, pelo que a Santa Casa da Misericórdia de Mirandela abraçou o desafio de organizar o 5º Seminário “Novas Abordagens no Cuidar”. A 30 de novembro e 1 de dezembro, vários especialistas reuniram-se em torno de questões relacionadas com saúde mental, úlceras de pressão, acidentes vasculares cerebrais (AVC), estimulação multissensorial, risoterapia e eutanásia.

“Como forma de celebração dos 500 anos da instituição, nada melhor do que juntar pessoas para debater temas de máxima importância, como a saúde, o cuidar do próximo, a melhoria da qualidade de vida daqueles pelos quais somos responsáveis”, refere Raquel Alves, diretora técnica da Unidade de Cuidados Continuados João Paulo II.

Destinado a estudantes e profissionais da área, o seminário trouxe a lume novos conhecimentos e metodologias aplicadas no cuidar de forma continuada. A participação rondou as 300 pessoas, contando com “um grande envolvimento da comunidade local e dos cuidadores informais”.

O envelhecimento da população, associado ao aumento da longevidade, e a incidência de demências têm repercussões ao nível dos cuidados institucionais. “Portugal tem uma enorme lacuna relativamente ao apoio e cuidado específico de pessoas com demência, já que não existem estruturas diretamente vocacionadas para esta condição neuro degenerativa. É por isso que os desafios para as instituições que cuidam destes utentes são enormes e o papel do cuidador é determinante, tanto na fase de deteção de sintomas, como nos cuidados adequados ao longo da doença”, afirmou a presidente da Matiz – Associação para a Promoção da Saúde Mental, Sara Araújo. 

De acordo com um estudo da UMP, nove em cada dez idosos institucionalizados em lares têm alterações cognitivas que sugerem demência, sendo que em 78% se confirma esse diagnóstico. “Isto torna o quotidiano nas estruturas residenciais para idosos difícil, porque ainda não são específicas para pessoas com demência e estão a fazer um grande esforço para se adaptarem a esta nova exigência social. Por outro lado, são muitos os utentes que estão em casa e as famílias necessitam de apoio”, afirma Marisa Fernandes, da Associação Alzheimer Portugal.

A cada 3 segundos alguém no mundo desenvolve demência, sendo que Portugal é o 4º país da OCDE com mais casos por cada mil habitantes. No distrito de Bragança, o número de casos “tem vindo a aumentar”. É, portanto, consensual a necessidade de um maior conhecimento das patologias e dos cuidados que requerem para “cuidar bem e com menos desgaste para o cuidador”. “A formação de cuidadores formais e informais é o caminho a seguir, mas há ainda muito estigma a combater”, admite Marisa Fernandes. 

Apesar de o Plano Nacional para as Demências ser crucial, a representante da Alzheimer Portugal reconhece que há ainda “muito a fazer e o facto de o Orçamento do Estado não ter previsto uma verba específica nos deixa muito sossegados”. “Os tempos futuros requerem investimento a todos os níveis para melhorar o dia-a-dia das pessoas com demência e de quem delas cuida”, alertou. 

O seminário abordou também a problemática das úlceras de pressão. “A médica especialista em cirurgia plástica, reconstrutiva e estética Susete Pires falou-nos das medidas preventivas a adotar pelos enfermeiros tanto no domicílio como nos hospitais para que haja uma diminuição da taxa de incidência das úlceras de pressão. Por outro lado, indicou-nos como deve ser feito o encaminhamento dos doentes que estejam numa situação em que não é possível fazer o tratamento”, conta Ema Jacinto, enfermeira especialista em saúde comunitária. 

A formação contínua dos profissionais de saúde é incontornável: “temos sempre necessidades de formação, porque há muitas técnicas novas, há também muita coisa nova na nutrição que já ajuda na cicatrização das úlceras, ou seja, os profissionais de saúde têm que estar sempre a atualizar-se”. Quando prestam serviços no domicílio, é preciso “uma abordagem diferente” do que em contexto de internamento hospitalar porque “os cuidadores ainda carecem de muita informação, ensinamentos e acompanhamento”.

A primeira edição deste seminário foi organizada pela Misericórdia de Mogadouro em 2011. Depois deste contributo da Misericórdia de Mirandela para a divulgação das melhores práticas no ato de cuidar, caberá à Misericórdia de Vimioso organizar, em 2019. Com o apoio da UMP, a iniciativa contou ainda com a presença de Manuel Caldas de Almeida, vogal do Secretariado Nacional responsável pela área da saúde.

Voz das Misericórdias, Patrícia Posse