As Misericórdias de Arganil, Penacova e Vila Nova de Poiares arrancaram com um projeto conjunto para prestação de cuidados paliativos

Apercebendo-se da “urgente necessidade de desenvolvimento de respostas vocacionadas para a abordagem paliativa, face às crescentes problemáticas associadas a esta realidade”, a Misericórdia de Arganil decidiu “procurar alternativas no âmbito do apoio aos cidadãos em situação de vulnerabilidade” e, visando uma “economia social de escala”, convidou as Misericórdias de Penacova e Vila Nova de Poiares para uma candidatura conjunta ao Prémio BPI “La Caixa” Rural 2019.

“Esta parceria vai contagiar outros municípios e outras Misericórdias”, declarou o provedor de Arganil, na manhã de 23 de janeiro, na sessão de apresentação da equipa de ação paliativa “Dar Sentido aos Dias”.

José Dias Coimbra deposita as melhores expetativas relativamente a este projeto de constituição de uma equipa multidisciplinar com o intuito de prestar cuidados paliativos a 25 cidadãos. O provedor arganilense salientou a importância da cooperação nas comunidades, das parcerias e do reforço das respostas no campo das intervenções paliativas.

 “Ai de um homem só! Ai de um município só! Ai de uma Misericórdia só! Têm de estar unidos!” Ao que anuíram os provedores Manuel Lobo (da Misericórdia de Vila Nova de Poiares) e José Amaral (da Misericórdia de Penacova), bem como os provedores vizinhos entretanto convidados para a sessão e o vice-presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Caldas de Almeida. Além dos autarcas João Miguel Henriques (presidente do executivo camarário poiarense) e Humberto Oliveira (presidente da Câmara Municipal de Penacova), estiveram no evento outros representantes institucionais.

O projeto “Dar Sentido aos Dias”, que proporcionará uma atuação em contexto domiciliário e institucional nos três concelhos abrangidos, durante 12 meses, tem um custo total de 92 mil euros (de que 75 por cento é esgotado em recursos humanos). Do total, 42 mil euros correspondem ao esforço das instituições envolvidas nesta parceria e os restantes 50 mil euros ao valor do Prémio BPI “La Caixa” Rural 2019, atribuído pelo reconhecimento da relevância da referida candidatura em torno da ação paliativa, nas suas dimensões físicas, psicológicas, sociais e espirituais.

O projeto foi iniciado a 5 de dezembro de 2019 e assenta na ideia de que “o que destrói o homem não é o sofrimento, é o sofrimento sem sentido”, como diria o psiquiatra e neurologista austríaco Victor Frankl, autor citado por Nuno Gomes, tendo este impulsionador do projeto “Dar Sentido aos Dias” também subscrito o pensamento de Manuel de Lemos: “A realidade sobrepõe-se à ideologia.”

Nesse contexto, foi apresentada a equipa multidisciplinar envolvida no projeto, que é composta por animador social, enfermeiros, médico especialista na área da Dor, professor, psicóloga, técnico superior de Serviço Social e voluntários. Em caso de necessidade, a equipa de ação paliativa poderá ser reforçada com a colaboração de outros profissionais de saúde: nutricionista, terapeuta de fala e fisioterapeuta, entre outros.

Na sessão também interveio a enfermeira Joana Rente (da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, anterior ANCP), para quem “os cuidados paliativos estão longe, muito longe, de ajudar a morrer”. Isso porque, admitindo que “as pessoas estão para durar e a atingir idades mais avançadas”, “os cuidados paliativos ajudam, sim, a viver”.

Na sua alocução, Joana Rente denunciou o facto de a região Centro ser a “área mais desfalcada a nível dos cuidados paliativos”, além de, em Portugal, “ainda não existir nenhum médico com competências de cuidados paliativos pediátricos”. “Como vamos formar essas equipas?”, questiona a mesma profissional de saúde.

Por sua vez, já no encerramento deste encontro, o vice-presidente da UMP, Manuel Caldas de Almeida, chamou a atenção para as dificuldades que as Misericórdias de determinadas zonas do país têm na contratação de auxiliares, reforçando a necessidade de mais formação para este setor a fim de evitar as repercussões negativas da doença no bem-estar global do utente. “Há pessoas que sofrem pelas incompetências de quem as trata”, disse.

O controle da dor, assim como o apoio ao luto serão duas das várias ações inseridas no plano de atuação da equipa. Segundo nota da Misericórdia de Arganil, outra componente fundamental do projeto passará pelo papel da família, cuja participação neste processo de mitigação da dor e promoção da dignidade do cidadão apoiado é fundamental e central. A mesma nota refere que o “Dar Sentido aos Dias” poderá ser ponto de partida para uma eventual equipa comunitária de cuidados paliativos.

Voz das Misericórdias, Vitalino José Santos