O desporto do Centro João Paulo II (CJPII), equipamento da UMP em Fátima, está a viver dias de glória. Em menos de um mês, dois atletas seus conquistaram o lugar mais alto do pódio em provas mundiais: Ana Sofia Costa no campeonato do mundo de boccia, e Samuel Omoruyi na prova de tricicleta nos Jogos Mundiais IWAS, que reúnem atletas "emergentes" e aspirantes às paraolimpíadas.

O feito de Ana Sofia Costa foi alcançado na madrugada de 11 de dezembro, com a conquista da medalha de ouro (classe de BC3) no campeonato do mundo realizado no Rio de Janeiro, Brasil. Foi, nas palavras do treinador David Henriques, que também esteve neste mundial como árbitro, a vitória da “força mental” e do “querer muito”. A seu lado, a atleta de 26 anos tinha a parceira de competição Celina Lourenço, com quem conseguiu “uma extraordinária dinâmica, que tornou o sonho realidade”, reconhece o técnico.

À partida para o Rio de Janeiro, treinador, atleta e parceira tinham como meta alcançar os quartos-de-final, um objetivo que definiram após a convocatória de Ana Sofia Costa para esta prova, "tendo em conta os adversários participantes e o ranking mundial".

A estreia começou bem, com uma vitória no primeiro jogo, garantindo o acesso ao play-off. Seguiu-se o confronto com a atual número três do mundo, a brasileira Evelyn de Oliveira. Desta vez, a adversária levou a melhor e relegou a atleta portuguesa para o segundo lugar do grupo.

Seria, apenas, mais um obstáculo a contornar. No play-off, Ana Sofia Costa venceu por 4-1 e alcançou os desejados quartos-de-final. "O objetivo inicial estava atingido. O que acontecesse daqui para a frente era fantástico”, recorda David Henriques. E foi fantástico. Melhor, era impossível.

A atleta seguiu em prova com mais uma vitória, agora por 6-0, conquistando o 'passaporte' para as meias-finais, onde defrontou a número um do mundo, a atleta de Hong Kong Yuen Kei-Ho. Ana Sofia não se deixou amedrontar e, apesar do "cansaço acumulado", após cinco dias de competição, impôs um 4-2 à adversária. “Neste momento já não havia limites e tudo era possível. Uma medalha de prata já seria extraordinário."

No derradeiro jogo, frente à australiana Jamieson Leeson, Ana Sofia entrou a perder, terminando o primeiro parcial com uma desvantagem de 2-0. Acabou, no entanto, por dar a volta ao marcador, fazendo valer a sua máxima: “Lutar sempre, vencer às vezes, desistir nunca”.

Lutou e ganhou por 6-2.

David Henriques não tem dúvidas que "a postura e a força mental foram determinantes para esta reviravolta espetacular" e para o resultado "histórico", não só para a atleta e equipa técnica, mas também para o CJPII. “Nunca um atleta do centro tinha participado num campeonato do mundo de boccia. E a estreia foi logo com uma medalha de ouro”, assinala, com indisfarçável orgulho, o treinador que, como árbitro, teve o "privilégio" de apitar uma final neste campeonato do mundo.

 

OURO PARA SAMUEL OMORUYI

O CJPII esteve também representado ao mais alto nível nos Jogos Mundiais IWAS (World Games IWAS), realizados em Vila Real de Santo António, no final de novembro. A competir na categoria de sub-20, Samuel Omoruyi participou na prova de tricicleta e conquistou a medalha de ouro nos 200 metros classe RR1.

A tricicleta é uma disciplina de atletismo adaptado para pessoas com paralisia cerebral e deficiências motoras, que afetam o movimento e o equilíbrio. Com apenas dois anos de prática, Samuel Omoruyi, de 17 anos, já tinha participado em encontros nacionais e campeonatos da modalidade.

Agora, foi chamado aos World Games IWAS, que, segundo a organização, são "projetados para dar aos aspirantes a atletas paraolímpicos e atletas emergentes o seu primeiro gostinho na competição internacional". A americana Tatyana McFadden, sete vezes campeã paraolímpica, e o velocista britânico Jonnie Peacock, duas vezes medalha de ouro, foram dois dos atletas que começaram a dar nas vistas, a nível internacional, nesta competição.

Criado em 1989 e com capacidade para 192 pessoas, o Centro João Paulo II, em Fátima, é um dos três equipamentos da UMP dedicados a apoiar a população com deficiência.

 

Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva